Para se defender dos assaltos a residências e das violações

Moradores criam grupos de defesa pessoal

Com o surgimento de novos bairros em Luanda, os furtos a casas e os assaltos à mão armada, sobretudo em estabelecimentos comerciais, têm crescido. Estrangeiros como os portugueses e chineses, bem como do oeste africano, têm sido as principais vítimas. Para estancar, moradores organizados em comissões, criaram grupos de defesa para se defender dos ataques dos marginais e quando são apanhados alguns chegam a serem queimados com pneus.

Moradores criam grupos de defesa pessoal
D.R.

A onda de assaltos já tem outros contornos. Os assaltantes já estabeleceram tabelas para cada casa, cobrando aos moradores para não serem… assaltados.

ʿA vida faz-se nos musseques’ é um ‘slogan’ que resume tudo: nos bairros tudo pode acontecer. Apesar do movimento intenso, o medo, associado à insegurança causada por assaltos, violações sexuais e mortes, tem tirado o sono e a tranquilidade de moradores. Ninguém sabe a hora e o dia em que o azar pode bater à porta. Para se precaverem, algumas comissões de moradores nos musseques resolveram criar grupos, constituídos, na sua maioria, por jovens. Têm a missão de patrulhar o bairro durante as madrugadas e defender de possíveis ataques.

No bairro Km 9 A, em Viana, Luanda, a famosa rua da ‘Escolinha da Paz’ não tem paz nem tranquilidade. O alfaiate Manuel Manico, de 56 anos e morador na rua há 20 anos, sublinha que as noites têm sido um "calvário" e os assaltos acontecem a qualquer hora do dia. Com um pequeno comércio, já foi 'visitado' por marginais e teve de fechar a cantina.

Manuel Manico desconhece onde funciona a comissão de moradores, mas sabe que cada um protege-se como pode. O filho Miguel, 26 anos, revela que a juventude, sobretudo os estudantes, encontra muitas dificuldades depois das 19 horas. Apesar do bairro ter energia eléctrica, as noites têm sido de vigília total. Os trabalhadores não podem sair de casa entre as quatro e as cinco horas com medo de serem assaltados.

Ainda em Viana, no bairro Caop B 17, há a famosa zona do Chamavo. Aqui, a situação é mais crítica e os moradores estão praticamente isolados de tudo. Quem possui tanque de água potável e energia eléctrica é considerado um ‘boss’. No Chamavo, os moradores usam apitos para alertar a presença de estranhos, tentando travar os assaltos a residências. Quando são apanhados, assaltantes ou não, só conhecem um destino: queimados com pneus.

Jorge Manuel, de 39 anos, um dos integrantes deste grupo de defesa, confessa ter perdido a conta de quantos morreram queimados por tentativa e roubo. Os moradores resolveram fazer justiça por mãos próprias, por estarem cansados da onda de assaltos. As suas reivindicações nunca foram atendidas pela polícia de Viana. Sem remorso e com toda calma, Jorge Manuel lamenta que os moradores sejam esquecidos.

 PREÇOS POR ASSALTO

A onda de assaltos já tem outros contornos. Os assaltantes já estabeleceram tabelas para cada casa, cobrando aos moradores para não serem… assaltados. Quem possui casas de blocos é obrigados a entregar 100 mil kwanzas e as de chapa 50 mil. Quem recusar pagar, sujeita-se a ser assaltado com violações à mistura ou mesmo o assassinato de um membro da família. Todas as semanas, há moradores a abandonar as casas e a procurar locais mais seguros.

De acordo com o coordenador, a “intervenção da polícia é uma miragem”, o que os levou a criar este grupo de segurança comunitária. “Viver aqui dá medo, e, se virem bem, muitas casas foram abandonadas, dada a criminalidade”.

Os moradores já chegaram a escrever à administração municipal de Viana a solicitar a construção de uma esquadra e de uma escola, mas nunca receberam qualquer resposta. Preocupado com a falta de escola, Segunda Joaquim construiu quatro salas de aulas de chapas e disponibilizou um espaço onde os jovens realizam jogos de futebol de onze e de salão. “Temos terrenos disponíveis para a construção destes meios públicos”, assegura.

Tal como noutros locais, na zona da Bananeira, o bairro Kalawenda, no Cazenga, acorda muito cedo. Logo pela manhã, o movimento é intenso, com adultos e crianças de batas e mochilas nas costas, a circular para quase todas as direcções. No entanto, os acessos são precários. O ambiente é bastante frenético e com muita poeira. Senhoras comercializam produtos diversos.

Daniel Figueiredo, 23 anos, já fez parte de grupos de jovens que assaltavam pessoas e residências, mas confessou ter deixado estas práticas quando foi viver para Malanje. Outro jovem, conhecido apenas por ‘Nelo’, mostra sinais de espancamento que foi alvo por parte de outros jovens, por este não ter cem kwanzas. Já Joana Cassua, 46 anos, moradora do Kalawenda desde 2000, mostra-se preocupada com as violações e roubos à mão armada. Há duas semanas, um mototaxista foi baleado com quatro tiros no peito. Os autores dos disparos levaram a mota.

No bairro Comandante Bula, vulgo Malweca, em 2015, foi criado, um movimento de jovens, constituído por angolanos e estrangeiros, denominado ʿOs muçulmanos’.

Pedro António, morador do Malweca há oito anos, confessa que, no passado o bairro estava na boca das pessoas por piores razões e apesar de uma certa tranquilidade os assaltos as residências abrandaram, mas entende que todo cuidado é pouco. No Malweca, sobretudo na zona dos Mulenvos de Baixo, os moradores comunicam-se durante a noite através de apitos quando uma residência está a ser arrombada e apelam mais policiamento.

 

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