Denunciam os consumidores, admite a associação de camionistas

Preço da água disparou em Janeiro

A Associação dos Captadores e Transportadores de Água (Angomenha) desconfia que haja especulação de preços. A água, em Luanda, está mais cara. Os camionistas justificam com os custos gerais.

Preço da água disparou em Janeiro
Mário Mujetes
O acesso à água potável
Augusto Armando,

Augusto Armando,vice-presidente da Angomenha

Mesmo com estes exageros, há motoristas que praticam preços justos, não são todos os que especulam.

Consumidores que dependem de cisternas para ter água denunciam um aumento de preços, numa altura em que, nos bairros, o produto está raro. Mil litros de água estão a ser comercializados a 110 kwanzas, contra os 70 que eram praticados até 1 de Janeiro. A denúncia é feita pelos consumidores e admitida pela Associação dos Captadores e Transportadores de Água de Angola (Angomenha).

Preço da água disparou em Janeiro

Benvinda Alberto Chakoka,

residente de Viana, garante que nos últimos dias a água se tornou “rara”. No seu tanque de 14 mil litros, um bidão de 20 litros está a ser comercializado a 75 kwanzas e a banheira a 100. Para encher o tanque, gastou 18 mil kwanzas, em Dezembro. Este ano, chegou a pagar 22 mil. Antes deste período, comprava a cisterna por 13 mil kwanzas. Segundo conta, os camionistas fundamentam a subida com o aumento de preços nos locais de captação no Kifangondo, Cacuaco, Calumbo e Kikuxi.

Mónica Flávia, de Luanda, queixa-se de proprietários de tanques que não aceitam vender água. Quando isto se regista, muitos moradores percorrem quilómetros para conseguir água “pelo menos um bidão”. Nos tanques, a água é vendida como forma de ajudar os vizinhos. “Não é um negócio para se sustentarem”, frisa.

Segundo a moradora, quando os vizinhos não aceitam vender, a situação torna-se “complicada”. O mês com mais carência é Dezembro.

Preço da água disparou em Janeiro

Maria Pedro classifica de “horrível” a carência que se regista há dias. Quem consegue comprar as cisternas encarece também os recipientes. Nos dias que pretende lavar a roupa, chega a gastar mais de dois mil kwanzas, só em água, sem contar com outros produtos necessários.

Outra residente de Luanda, Imaculada da Conceição, lembra que, em 2010, foram inaugurados diversos chafarizes na zona. Meses depois, deixaram de funcionar e até agora estão sem água e “sem explicação”.

O Relatório Social de Angola 2016, publicado pela Universidade Católica de Angola (Ucan), destaca que 55 por cento dos agregados familiares em Angola tem acesso à água potável, uma taxa considerada “bastante baixa”. De acordo com o documento, deste número, 67 por cento localiza-se em zonas urbanas e 32 nas rurais. Segundo o relatório, de 2015 a 2016, mais de nove por cento dos agregados familiares receberam acesso a fontes melhoradas de água, 10 por cento em zonas urbanas e rurais, respectivamente.

O vice-presidente da Associação dos Captadores e Transportadores de Água de Angola (Angomenha), Augusto Armando, confirma que, nos pontos de abastecimentos do Kifangondo, Calumbo e Kikuxi, o metro cúbico de água, custa 110 kwanzas, contra os 70 praticados até 1 de Janeiro. De acordo com o responsável, o aumento dos 40 kwanzas foi provocado pelos problemas que se registam no exercício das suas funções.

O responsável associativo, no entanto, não comunga da opinião de que a água encareceu. Explica que um camião de 20 mil litros, com água bruta e depois tratada com hipoclorito de sódio, custa na fonte 3.500 kwanzas. A que é tratada directamente na fonte custa cerca de 7.000 kwanzas. Com estes números, Augusto Armando justifica os preços praticados pelos camionistas nas residências com as distâncias, custo dos combustíveis e outros “constrangimentos” verificados nas vias. “Mesmo com estes exageros, há motoristas que praticam preços justos, não são todos os que especulam”, admite.

O responsável apela a que se façam denúncias nos postos de abastecimento, para que os motoristas que especulam sejam responsabilizados. A forma de o consumidor saber a origem da água é solicitar a ficha de registo emitida pela Angomenha, da qual constam dados do camião e o valor que pagou pela água.

A organização mostra-se contra a subida dos preços da água, recorda que os camionistas também têm tido muitas despesas para levar a água a zonas como Benfica, Cazenga, Viana ou mesmo ao centro da cidade. Diariamente, a organização regista mais de 500 camiões.

Água, mas não para ‘todos’

Os programas de abastecimento de água têm sofrido reduções orçamentais significativas ao longo dos últimos anos. O Programa Água para Todos (PAT), o único do Governo para levar água potável às zonas rurais, sofreu uma redução de 70 por cento, no período 2014-2016, passando de uma inversão de 31 mil milhões para nove mil milhões de kwanzas. O financiamento ao programa Reabilitação dos Sistemas Urbanos de Água e Saneamento foi cortado 31 por cento, entre 2014 e 2016, passando de 120 mil milhões de Kwanzas em 2014 para 83 mil milhões em 2016.

No Orçamento Geral de Estado (OGE) de 2016, 87 por cento das verbas para o abastecimento de água foi alocada ao Ministério da Energia de Água. Os restantes 13 por cento foram destinados aos governos provinciais e municipais. No Programa Água para Todos (PAT), 42 por cento do orçamento é para o Ministério.

O Censo 2014 mostra que o fornecimento de água não melhorou nos últimos oito anos. Os dados indicam que apenas 44 por cento dos agregados familiares tem acesso à água potável. Por exemplo, no meio rural, o objectivo do Governo era chegar a 80 por cento de cobertura até 2017, no entanto, o acesso à água potável diminuiu de 38 por cento em 2006 para os 22 em 2014.

O programa de Desenvolvimento Nacional (PDN 2018-2022) prevê que a taxa de cobertura de abastecimento de água nas áreas urbanas (capitais de província, sedes municipais e comunais mais populosas) passe de 60 por cento em 2017 para os 85 por cento em 2022.

 

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