E se eu fosse apenas professor?

Eventualmente, fosse chamado kunanga ou biscateiro.  Certa vez, apresentando-me a uma jovem aparentemente esbelta mas que me decepcionou, depois de eu lhe dizer que era professor e, ainda assim voltou a questionar: “Só és professor e não fazes mais nada?

Quando era jornalista no activo e ministrava aulas à tarde, a pergunta que as pessoas me colocavam era: “És jornalista e dás aulas à tarde, nê?!

Ser jornalista, por ser profissão liberal “equivale” a um ‘não trabalho’, pois, para alguns, o trabalho significa passar todo o dia no serviço como os funcionários públicos.

Para os tais, ser estivador no Porto, pedreiro algures, desentupidor de fossas é o que equivale a ser trabalho/trabalhador, sendo o uso da força o maior qualificador profissional.

Em conversa, meus antigos foram unânimes: “ser professor já foi tido como trabalho de muito respeito e consideração social. Agora, desde que muitos sem habilidades inundaram o sector, a profissão tornou-se uma ‘simples ocupação’, um biscate”.

Já tive um período de cinco anos em que o regime de trabalho, a falta de escolas particulares e aulas nocturnas e a distância me inibiram de dar aulas. Nessa situação, eu era um trabalhador. No entender deles, entregava-me ao patrão, à semelhança do que dizem fazer os funcionários públicos e bancários. Enquanto funcionário do Estado, trabalho. Já como professor, mesmo que fosse em escola pública, não trabalho. Apenas dou aulas!

Nem juntando ao ofício da educação o de jornalista sou trabalhador...

E se fosse simplesmente professor, ministrando aulas à noite, o que diriam de mim?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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