Nas zonas de risco

Chuvas ameaçam mais de 10 mil pessoas

Há mais de 10 mil pessoas a residir em zonas consideradas de risco. Inundações, desabamentos e ruas intransitáveis são alguns deles. Só Luanda contribui para estas estatísticas com 9.448. Muitas dos moradores foram desalojados das zonas demolidas pelos governos provinciais. O serviço de Protecção Civil e Bombeiros está a elaborar um mapa completo das zonas em todo o país para melhor detalhar e aconselhar as famílias a não construir.

Chuvas ameaçam  mais de 10 mil pessoas
Mário Mujetes

Mais de 10 mil pessoas vivem em zonas perigosas, correndo riscos de sofrer con inundações ou desabamento de casas. As zonas são caracterizadas por erosão, valas intransitáveis, correntes e passagem de água, lençóis de água, entre outras. Só em Luanda, residem 9.448 pessoas nestas zonas em Viana, Cacuaco, Cazenga, Belas e Luanda. Os dados são da ONG ‘SOS Habitat’, que realizou estudos e trabalhos de campo nestes municípios. Segundo a ONG “muitas destas pessoas já tinham sido retiradas de bairros destruídos” pelo governo de Luanda e “não foram realojadas”, vindo a morar em outras zonas, de igual ou com acentuado “risco”.

Cada município de Luanda, Cazenga, Cacuaco, Viana, Icolo e Bengo, Belas e Quiçama tem pelo menos uma zona de risco. No Cazenga, estão nos arredores do bairro ‘Angolano Vala’, lagoa do ‘Tio Kimbundu’, no Tunga Ngó e ‘bacia da Catumbela’.

Em Viana, existem as zonas do ‘Coelho’, Estalagem, Kikuxi, no Zango, Caop e o bairro Capalanga. Em Cacuaco, os bairros da Boa Esperança, Pescadores, Kikolo e na Cefopescas são os “mais críticos”. Em Luanda, Ingombota, Rangel e Samba são os que mais casos registam. Sempre que há chuva forte, além das inundações, também se conta o número de mortes.

Na Samba, nasceu um núcleo chamado Cabo Ledo, com 150 casas. O nome foi dado por antigos militares que estavam aquartelados em Cabo Ledo. Aqui, sempre que chove, os moradores têm de estar de vigília. Fernando Júlio da Silva, um dos residentes, separado da esposa, procurou um lugar para se abrigar e encontrou-o aqui. Agora, não tem dúvidas de que a “vida aqui é péssima. Só Deus sabe”. Quando as chuvas se avizinham são obrigados a comprar chapas novas e preparar as casas. No bairro, todos os moradores já foram cadastrados pela comissão de moradores, que prometeu dar cartões para “facilitar a retirada de residentes” e serem colocados em outras zonas com maior “segurança”. No entanto, ainda ninguém avisou para onde.

Ainda na Samba, Aguinaldo João Hebo Correia, residente há quatro anos numa zona de risco junto à encosta, recorda que quando chove as casas ficam todas alagadas e cheias de lixo do esgoto, provocando um cheiro nauseabundo que “impossibilita a respiração”. Se a enchente acontecer de noite, as pessoas ficam fora das residências, até o caudal da água baixar. A situação já foi comunicada ao governo de Luanda, que fez deslocar equipas técnicas que fizeram o levantamento e registo dos moradores. E ficou-se por aí.

Como resultado do último cadastro, ficou a promessa de serem retirados do local num prazo de 60 dias, mas já se passaram mais de três meses e nada aconteceu. A maior parte dos residentes deste bairro são pescadores, que aproveitam a proximidade do mar.

Eva Cangando, doente, deitada numa esteira junto à sua casa de chapas, lamenta a falta de higiene, o cheiro e as águas paradas que não têm caminho para serem escoadas. Os espaços também são apertados, quando chove quem mora ali é obrigada a ficar em pé, até a chuva passar.

Mais de 80 mortes

Em 2017, em apenas três províncias, as chuvas causaram 88 mortes: na Huíla, 42 mortes, Huambo, 29 mortes e 17 em Luanda. Os dados dos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros referem também que se registou o desabamento de 609 residências, inundações em 78 escolas, 14 colégios, 17 esquadras policiais e 11 postos de transformação eléctrica e nove árvores foram derrubadas.

 

 

 

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