Concurso ‘Plus Size’ vai ter uma segunda edição

Tamanhos XXL com espaço nas passerelles

Se até há mais de cinco anos era impensável ter miss ou modelo tamanho XXL, ou simplesmente ‘Plus size’, hoje a realidade desperta para a inclusão e valorização da pessoa em si, defendem os que lidam com a moda. Cada vez mais, os criadores têm alterado os padrões de beleza que a sociedade exigia. E defendem que o concurso pode servir para abrir as mentes ainda fechadas.

Tamanhos XXL com espaço nas passerelles
DR.
Hamilton Cunha

Hamilton Cunhamister Angola 2018

Poderá incentivar as pessoas que, muitas vezes, são discriminadas, servindo de motivação para se integrarem.

A  pesar de Angola estar a realizar, pelo segundo ano consecutivo, o concurso de beleza em que o tamanho grande é ‘vedeta’, a realidade não é nova nos países pioneiros como os EUA ou o Brasil. Vina Criolo, em 2017, deu o ‘pontapé de saída’ para a inclu­são da mulher tamanho XXL para dentro das ‘passerelles’ e dos holo­fotes. Este ano, está prevista a do ‘Mister ‘Plus Size’.

 A ideia é aplaudida pelos cria­dores de moda, como a estilista e apresentadora Dina Simão, que felicita Vina Criolo pela iniciativa, como forma de combater, cada vez mais, a indústria da moda, em que a saúde e a estética “ten­dem a padronizar”, criando “este­reótipos” de beleza.

 A estilista entende que, mais do que um concurso de moda, ‘Miss Plus Size’ é a promoção de saúde e bem-estar. “É indubitável pro­movermos a saúde e o bem-estar, a gordura nunca foi formosura”. Embora reconheça que o mundo “é feito de diferenças”, alerta que “é importante sabermos respeitar e aceitar o que é diferente”. “Não me parece provável misturar ana­tomias opostas no mesmo con­curso, afinal, os critérios são bem diferentes e os conceitos e padrões estéticos também.”

 No entanto, para Kayaya Júnior, produtor executivo e ges­tor de eventos da agência Step Model, todo e qualquer tipo de evento desta natureza, sejam eles concursos ou não, “visam, em primeiro lugar, abrir janelas de oportunidades para várias situa­ções, que podem ou não ser apro­veitadas para haver integrações de vária ordem numa sociedade”. O empresário acrescenta que tam­bém “serve para abrir as mentes ainda fechadas” sobre este mundo mais aberto e integrado em que “nos encontramos”, em que “os padrões deixam de ser e passam a ser revoluções com uma rapidez estonteante”.

 Kayaya Júnior realça ainda que a juventude, e não só, “deve ser motivada, incentivada, por todos os exemplos que sejam positivos”. E defende que eventos como estes também “podem servir de rampa de lançamento para muitos talen­tos”. Contudo, admite que não acredita em “ascensão social por decretos”, mas sim com “muito tra­balho, determinação, ética, foco e responsabilidade” perante a socie­dade e o próximo.

 Para o ‘Mister Angola 2018’, Hamilton Cunha, de 20 anos, “a iniciativa é boa”, pois percebe que só deste modo se ‘quebra o gelo’ que já foi criado há muito tempo. E que “poderá incentivar as pes­soas que, muitas vezes, são discri­minadas”, servindo de “motivação para se integrarem”. Acredita que, com a realização destes concur­sos, os potenciais concorrentes podem adquirir incentivos para terem bons hábitos alimentares e fazerem exercício físico”.

 MISTER E MISS DISCRIMINADOS

Dina Simão questiona-se de como é que poderão “ascender social­mente” enquanto ‘plus size’, se são “discriminadas”, lembrando que “a sociedade impõe padrões de beleza”. A estilista recorre à realidade norte-americana, onde, por exemplo, 60 por cento das pessoas são obesas e a sociedade “não vê” o tamanho das pessoas, mas sim as suas capacidades humanas. O que “não acontece em Angola”, bastando, sugere Dina Simão, saber o número de pessoas obesas que traba­lham ou são apresentadoras de televisão. “Quantos obesos são apresentadores, secretárias e ou recepcionistas? É a prova de que a discriminação está em alta.”

 A estilista alerta para o uso de critérios que favoreçam as cor­rentes do concurso ‘plus size’, tal como o nome diz, e não os que ajudam para as altas, lin­das, sensuais e belas.

 O produtor executivo da Step Model afirma que “vivemos” numa sociedade onde “somos radiografados” todos os dias e onde a “valorização é vista de uma forma mais abrangente e individual”.

 Waldemar Júnior, presidente do comité ‘Miss Ingombota’, afirma que, quando se diz que “tu és gorda e só podes partici­par no concurso de gordas, estás a estigmatizar”.

Tamanhos XXL com espaço nas passerelles

 PODEM PROSPERAR NO MERCADO

Dina Simão pensa que o concurso é um “desafio” aos criadores que se “amedrontam”, em modelar e ou criar números grandes. “Sem mar­gem de dúvidas, obedece a alguns critérios próprios de profissiona­lismo e mestria. Abrindo-se aqui um mercado próspero para faze­dores de moda bem como satis­fação de quem é rechonchuda de conteúdo e encontra dificuldades na obtenção de roupas.”

 Mais optimista, Kayaya Júnior defende que, se a indústria “exigir e o mercado responder, porque não?”. Mas alerta que “é preciso perceber” que “os cabides são todos iguais”. O que quer dizer que não se deve “defraudar as expectativas” nem elevar de mais os egos de quem quer entrar para esta área profis­sional que “tem regras muito cla­ras e objectivas”. “Propostas como estas fazem com que o mercado se agite, se abra, o que, em conse­quência, provoca uma maior expo­sição para todos os profissionais envolvidos nesta indústria, onde se enquadram criadores, produ­tores e clientes de moda.”

 Waldemar Júnior, também criador de moda, entende que falar de conceito de beleza em Angola “é subjectivo”, pois explica que “os padrões foram importados” dos pioneiros no caso os EUA. “Em Angola, fica complicado padro­nizar os conceitos de miss.”

 Lembra e critica que, até há algum tempo, o mister e a miss “tinham de ter pele clara, estru­tura óssea aceitável”, pois não havia quem regulasse os comités e que “passaram a ser vulgariza­dos” por surgirem em todo o lado, em que “as misses passaram a ser eleitas não por padrões, mas por simpatia”.

 A crítica estende-se porque, de acordo com Waldemar Júnior, os criadores de moda “estão a viver de oportunismo”, justifi­cando que se “está a olhar para o mercado para ganhar dinheiro”.

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