Edifício vai completar 40 anos, a 10 de Fevereiro

Laasp, da luta pela independência à sobrevivência

Em véspera de completar 40 anos, a Laasp é obrigada a arrendar espaços para manter intacto o edifício. Património Histórico de Angola, foi um dos principais palcos no processo de libertação do país do jugo colonial e é um dos mais antigos edifícios de Luanda. Actualmente, já com o objecto social alterado, a direcção apela a uma requalificação.

Laasp, da luta pela independência à sobrevivência
Mário Mujetes
LAASP

Hady de Carvalho, responsável na Laasp

Alguns anticolonialistas, na altura, considerados 'assimilados' fingiam’ ter aulas de alfabetização, de práticas de corte e costura e outras

Com uma estrutura antiga, a Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos, ou simplesmente Laasp, possui um edifício com um andar. À entrada, árvores, assentos e 18 salas de aulas compõem o pátio. Este local, que actualmente necessita de apoios e uma requalificação, destina-se à realização de diferentes eventos com maior destaque para a exibição de peças teatrais e realizações de festas, sejam elas públicas ou privadas.

Transposta à entrada, na ala esquerda do edifício, encontram-se escadas que conduzem até a uma sala de aproximadamente oito metros quadrados, onde está exposta uma mesa com 14 lugares, em que se sentavam patriotas e revolucionários, a desenhar estratégias para a libertação de Angola.

Um dos responsáveis do edifício, Hady de Carvalho, recorda como alguns anti-colonialistas, na altura, considerados 'assimilados' fingiam’ ter aulas de alfabetização, de práticas de corte e costura e outras. "No fundo, a intenção era combater o colonialismo e, o mais importante, tudo era feito às escondidas", lembra Hady de Carvalho.

Depois de concluída a missão, isto é, a obtenção da Independência do país, a 11 de Novembro de 1975, criou-se uma outra associação resultante da fusão entre a Liga Nacional Africana, Os Naturais do Sul de Angola (Anangola) e a Associação de África para Sul de Angola numa única que passou a ser denominada Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos, voltada para o estabelecimento e estreitamento dos laços entre países africanos. 

Na ‘famosa’ sala multiusos, reinaugurada em 2004, pelo então ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro, apresentam-se essencialmente grupos teatrais. É composta com cadeiras de plástico e tem uma capacidade para 520 espectadores e com um palco que, para os fazedores de teatro, é visivelmente ‘arrojado’. À volta da sala, cortinas cor-de-vinho, feitas com tecido pesado, impedem a entrada da luz solar.

Hady de Carvalho explica que, como a instituição precisa de apoios para sua sobrevivência, o local tem sido arrendado ao preço de 25 mil kwanzas, geralmente, aos fins-de-semana.

Em carteira, consta um projecto de reabilitação do espaço, que junta a Associação Angola de Teatro e a Laasp e que se esperam resultados ainda este ano, garante o gestor.

Actualmente, a instituição tem promovido eventos culturais, desportivos e apoia famílias carentes e doentes. Sobrevive com um subsídio mensal do Estado, de apoios de algumas instituições privadas e da renda do aluguer de alguns compartimentos do edifício. Ainda assim tem sido “muito difícil” manter a estrutura e ‘fintar’ as despesas da instituição, nomeadamente, salários, manutenção e reabilitação daquele que é um dos mais antigos e históricos edifícios da cidade.

Sem qualquer tipo de apoio do Ministério da Cultura, a Laasp, cuja inauguração se deu a 10 de Fevereiro de 1979, é uma instituição de utilidade pública e foi criada, por decreto presidencial, pelo antigo e primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto. Conta com representações no Huambo, Benguela, Namibe e Uíge. Emprega aproximadamente 30 funcionários e tem sido gerida por uma comissão, que espera a realização de uma assembleia-geral para que possa ser eleita uma nova direcção, com um novo objecto social mais ligado ao contexto actual.

Um património histórico-cultural

Em Maio de 2017, o histórico edifício da Liga Nacional Africana, em Luanda, passou a ser classificado como Património Histórico-Cultural, por decisão do Ministério da Cultura. No decreto executivo de classificação, assinado pela ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, a 5 de Maio, são sublinhadas as características do edifício agregadas na arquitectura moderna, da primeira metade do século 20, tendo sido de "especial relevância a sua função", como um dos "principais palcos das actividades enquadradas no esforço de libertação do país do jugo colonial", lê-se no documento.

A direcção da Laasp aprovou, em 2016, a proposta de candidatura do edifício a Património Histórico-Cultural, agora aprovada, recordando que a instituição, nas funções que teve ao longo do período colonial, desempenhou "um importante papel na formação e acolhimento dos mais célebres nacionalistas e na promoção de ideais independentistas", até 1975.

Apesar de ser uma proposta apresentada pelos membros e sócios da Laasp, ed que já foi aprovada pelo Governo, a instituição propôs, igualmente, a reabilitação do edifício, antes mesmo que fosse elevado a Património Histórico-Cultural o que até agora não aconteceu e nem se quer surgiu “qualquer intenção” de o fazer. “Desde que o edifício foi considerado Património Histórico-Cultural nada mudou, só se acrescentou a placa, o resto mantém-se e o ritmo contínua”, lamenta Hady de Carvalho.

Dívidas à Laasp

Depois da fusão entre as três associações, a Laasp e o Ministério da Educação assinaram um ‘acordo de camaradas’ que consiste num ‘empréstimo’ da escola Ana N’gola, situada nas Ingombotas, em Luanda, mas com o pagamento de uma pequena contribuição mensal.

O acordo funcionou até 2010, quando ainda as escolas do 1.º ciclo se encontravam sob a responsabilidade da Delegação Provincial da Educação. Desde que passou a gestão para o Governo da Província de Luanda, acumulou uma dívida ‘cabeluda’ com a Laasp que desde 2011 tem visto este compromisso falhado e ainda tem de se responsabilizar pela manutenção e outras despesas da escola.

Sem avançar o valor da dívida, Hady Carvalho explica que a Laasp tem feito cobranças e a única resposta que recebe do GPL é que o “assunto vai ser resolvido ou/e são colocados na ‘lista de espera’.

Hady Carvalho garante que não existe nenhuma intenção de receber a escola, apenas apela ao Estado que honre com os seus compromissos para que desta forma, possam também dar ao edifício as melhores condições possíveis.

 

 

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