Comemorações do Dia Mundial do Teatro

Associação quer mais teatro infantil e de marionetas

Decorre, durante a semana, as comemorações do ‘Dia Mundial do Teatro’, que se celebra a 27 de Março. Em Angola, realizam-se vários eventos em alusão à efeméride, com particular realce para ‘workshops’, mesas-redondas e formações, agendados para até ao final do mês.

Associação quer mais  teatro  infantil e de marionetas
Mário Mujetes
Adelino Caracol

Adelino Caracolpresidente da AAT

Os grupos vêem-se na obrigação de evoluir de modo a fomentarem a cultura e o turismo e para que garantam a sua sobrevivência.

Comemorou-se ontem, 27 de Março, o Dia Mundial do Teatro, que foi instituído pelo Instituto Internacional do Teatro em 1961, em Paris, França. Em Angola, o número de fazedores da arte cénica tem crescido ano após ano. Só em Luanda, há, pelo menos, 210 grupos teatrais que fazem parte da Associação Angolana de Teatro (AAT), que, este ano, prevê a introdução do teatro infantil e de marionetas com mais afinco nos grupos.

Em Setembro, está prevista a realização do primeiro encontro nacional de teatro, que pretende reflectir sobre o estado do teatro, fazer um diagnóstico sobre o número de pessoas e de salas de teatro e que contributos os grupos podem dar. Outra preocupação é levar ao parlamento as preocupações dos artistas, porque “pretendemos que as coisas sejam feitas a um alto nível”, destaca o presidente da AAT, Adelino Caracol

 

Teatro é turismo

“Os grupos vêem-se na obrigação de evoluir para a industrialização de modo a fomentarem a cultura e o turismo e para que garantam a sua sobrevivência”, sublinha Adelino Caracol, que acumula a direcção da ATT com a do grupo Horizonte Njinga Mbande. “Há necessidade de haver mais salas e mais expansão para que não se fique preso ao centro da cidade”, defende, acrescentando a necessidade de “capitalizar para garantirmos a sobrevivência dos fazedores” e que é “preciso perceber as políticas de Estado a nível da cultura e do teatro, especificamente, quanto às infra-estruturas e à formação”.

Adelino Caracol alerta que se está a fazer cultura de forma “insípida” pois, defende que “cultura não é só laser, é também educação”. Outra preocupação do líder da AAT é que “haja aproveitamento dos quadros que saem desses institutos, a que mercado de trabalho serão inseridos e saber se serão meros professores ou se vão trabalhar como encenadores e actores”.

 

Teatro infantil e marioneta sem mercado

A AAT, dentro do seu programa, pretende incentivar os grupos a criarem teatros infantis e de marionetas. “Precisamos de experimentar para termos um diagnóstico de como o mercado vai reagir, porque as crianças são obrigadas a consumir coisas de adultos, por falta de alternativas”, rebate Adelino Caracol.

Para os fazedores de teatro, quanto ao número de apresentações, a facturação é discutível, pois, se para uns é satisfatória, para outros nem tanto. Para o encenador Flávio Ferrão, do grupo Henrique Artes, de 2018 até agora, o teatro “deu passos significativos na formação de quadros e na qualidade dos grupos”. Flávio Ferrão elogia a presença do Presidente da República, João Lourenço, que foi assistir à peça ‘Esquadrão Kamy’. No entanto, não se sente satisfeito com as exibições semanais, alegando que se deviam criar possibilidades, para que mais grupos exibissem e houvesse mais salas”.

Por outro lado, regozija-se com a inserção do teatro no ensino curricular: “o teatro vai dar passos consideráveis”. “A aposta nas infra-estruturas será somente a ‘cereja no topo do bolo’, pois o teatro tem dado prova de que, sem tantas infra-estruturas, tem sobrevivido e, sendo preparado na base, teremos artistas com maior domínio do exercício artístico”, sublinha.

Fundado há 18 anos, o grupo Henrique Artes conta com 26 membros. Já exibiu, pelo menos, 35 peças e actua essencialmente na Laasp, na Casa das Artes e no Elinga Teatro, em Luanda.

Outro encenador e director artístico Domingos Paposseco, do grupo Nkaylo-Teatro, que existe há sensivelmente nove anos, admite que, apesar de o teatro “deixar de engatinhar, ainda falta maior empenho e desenvolvimento desta arte e mais valorização”. Critica o facto de os governantes não assistirem. “O Presidente João Lourenço foi o primeiro a marcar presença numa peça teatral deste 2018 e é o único, um ponto positivo do último ano”.

Domingos Paposseco receia que os formandos se venham a perder, pelas condições que o mercado das artes cénicas enfrenta. “O Isarte chegou muito tarde, mas chegou, e fez bem em existir, mas, pela realidade do teatro do nosso pais, ainda receio que muitos formados possam não vir a exercer a sua função como actores profissionais, caso não haja politicas para superar o problema do nosso teatro, porque nós, os actores profissionais, ainda não vivemos do teatro e aí podemos morrer pobres nesta arte rica”.

O grupo tem uma facturação mensal de 45 mil kwanzas, o que representa um valor minúsculo para aquilo que são as suas necessidades, desde a compra de indumentárias, aluguer de espaços para exibição e logística. Actualmente, actua numa das salas da Casa da Juventude em Viana, Luanda, e conta com 10 membros.

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