DIVULGAÇÃO DE ARTE

Artistas brasileiras nos EUA procuram parceria com artistas angolanos

Organização não-governamental Atelier Sem Fronteiras, projecto que incentiva e promove o intercâmbio artístico e cultural entre artistas de várias nacionalidades, pretende estabelecer parcerias com artistas angolanos para a promoção e divulgação das suas obras.

Artistas brasileiras nos EUA procuram parceria com artistas angolanos
D.R

Como surgiu a ideia da criação do AWB?

A ideia foi da Daniela Berchovich, que é socióloga. Ela deixou de trabalhar e, por pintarmos juntas, teve a ideia de criarmos um projecto social. Como também sempre foi um sonho meu [Cecília Thibes], pensamos no nome e começámos. Depois juntou-se a Mónica Mendes, que também sempre quis ter um projecto social, e finalmente entrou a Fernanda. A nossa ideia era propagar a arte para artistas que não têm condições financeiras, porque o material é caro, vender arte é difícil. Com o Atelier, podemos unir forças e, por ser um Atelier sem fronteiras, não é algo restrito aos EUA, trabalhamos com artistas do Haiti e do Brasil.

 

Entende-se que trabalhem com artistas norte-americanos, porque é onde vivem, e com brasileiros porque é a vossa origem.Porque o Haiti?

Porque a Daniela morou lá e só se mudou para Miami depois do terramoto de 2010, no Haiti. Foi quando eu, Cecília Thibes, e ela nos conhecemos e começámos a pintar juntas, mas depois começámos a sentir esse vazio e surgiu esse impulso social. Mas foi também pela necessidade de ela, como socióloga, continuar a trabalhar com o lado social, e porque acreditamos que a arte é o maior veículo social que existe. Nós concordamos que, se um artista não trabalha para o social, fica vazio, porque a arte cura e salva.

 

Por enquanto, estão ‘presas’ ao continente americano. Para quando a expansão do vosso trabalho?

Estamos mesmo a pensar nisso e, por isso, estamos a fazer essa entrevista convosco, para essa expansão. Temos um projecto chamado ‘Out ofthe box’ que consiste em trabalhar com materiais que, a olhos nus, são descartáveis. E com o ‘Out of the box’, temos uma arte cooperativa em que podemos ajudar artistas que estão em condições financeiras precárias em comunidades muito carentes. Então, o nosso objectivo é construir ateliers em comunidades onde as crianças possam ter acesso.

 

Para além do ‘Out of the box’, vocês têm outros programas?

Temos também o ‘travelling artist’ que consiste na divulgação de palestras, workshops, música, teatro performances, filmes e exposições para espaços culturais alternativos. Inclusive vamos agora fazer uma exposição no Equador e vamos levar um artista de lá que tem pouco poder financeiro. Nós angariamos alguns fundos e levamos o artista sem que ele tenha nenhum custo, porque entendemos que tem muita gente talentosa que não tem essa possibilidade.

 

Têm ideia de quantas pessoas já conseguiram divulgar dentro desse segmento?

São muitos já. Apesar de sermos pequenos, é bom ter essa sensação de que aos poucos podemos ajudar as pessoas.

 

Têm parceria com outras ONG?

Tentamos pedir dinheiro a outras organizações. Às vezes, conseguimos, outras não.

 

Apesar de estarem restritos ao continente americano, têm a modalidade das doações. Costumam receber apoios de outros continentes?

Já recebemos mas não é algo constante. Como ainda somos muito pequenos, as pessoas ainda querem saber mais sobre nós.

 

Que constrangimentos a pandemia trouxe par o vosso projecto?

Todos tiveram constrangimentos com a pandemia mas, com a questão da internet, conseguimos expandir através do zoom e de outros recursos. Acreditamos que hoje estamos mais internacionais. Estamos agora a fechar uma parceria com o Brasil, em que vamos fazer conferências de arte para o mundo inteiro. Como somos um atelier sem fronteiras, essa questão das exposições físicas não é um problema. Essa mudança de paradigma que está a acontecer no mundo tem um lado positivo.

 

Conhecem a qualidade artística africana, mais especificamente angolana?

Com certeza. Todo o artista abstracto fala que não escapa a África. Picasso, Cézanne, Franz Marc todos foram para África. A cultura africana é muito rica e nós, brasileiros, a cultura que temos é africana. Nas nossas exposições, gostaríamos muito de ter um artista africano.

 

Aceitam apenas doações monetárias ou também recebem materiais?

Pode doar o que tiver. Tivemos um projecto no Haiti em que recebemos instrumentos musicais para uma escola de música, então qualquer tipo de interesse em fazer doações é só entrar em contacto connosco. Até mesmo ONG aí em Angola que queiram fazer parceria estamos abertos. Podemos tentar ver fundos ou podemos patrocinar um artista que queira participar em alguma exposição.

 

Como seria esse patrocínio?

Por exemplo, nós próprias pagaríamos o custo da feira e o artista não pagaria nada.

 

Mas feiras aí nos EUA ou aqui em Angola?

Actualmente, trabalhamos com feiras aqui mas, se tiver uma feira aí, nós entramos também. Aqui, em Dezembro, tem o ‘art Basel’ e nesse evento vêm artistas do mundo inteiro e, se a pessoa não for famosa, precisa de patrocínio e nós já conseguimos integrar artistas nessa feira.

 

Como é que um artista angolano consegue o vosso patrocínio?

É só entrar no nosso website e entrar em contacto connosco.

 

Sem fronteiras

O projecto Atelier Sem Fronteiras é dirigido por quatro brasileiras que vivem nos EUA, mas pretendem expandir a área de actuação. As mentoras do projecto Mónica Mendes, Cecília Thibes, Fernanda Dabus e Daniela Bercovich (que não participou da entrevista) não escondem a apreciação da arte africana e justificam com isso a vontade de estabelecer um intercâmbio com artistas angolanos.

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