E agora pergunto eu...

A nossa actualidade política andou dominada pela cimeira da CPLP, uma instituição que, um pouco à semelhança do nosso país, vive há muitos anos do potencial, do que poderá ser um dia... de futuro. Isto porque o presente esse continua a deixar a desejar bastante.

O tio Celito no seu jeito popular de arrastar multidões em festa andou pelas ruas de Luanda a lembrar os nossos governantes, e principalmente o PR, das múltiplas razões pelas quais ele não teria condições de fazer o mesmo. É o tio Celito a levar a perguntar “quando é que terá Angola uma liderança carismática, que faça as pessoas ter esperança e foco na construção de um país melhor para todos? Que inspire? Uma liderança aplaudida e respeitada pelo povo, uma liderança com suficiente obra feita em prol do colectivo que tenha a parcimónia de andar pelas ruas a saudar e ser saudada tranquilamente pelos governados?”

Angela Merkel foi aplaudida nas ruas efusivamente em reconhecimento sincero e colectivo do trabalho que fez pela Alemanha, da gestão ponderada do Covid da liderança inspiradora. E este foi um reconhecimento público espontâneo que extravasou em larga escala o apoio ao seu partido. Foram feitas sondagens que demonstraram que Merkel reunia consenso acima de 80 por cento dos inquiridos, muitos de partidos da oposição. O tio Celito reúne também consenso transversal em Portugal. E, ao vê-lo andar pelas ruas de Luanda a arrastar multidões num país que nem é o seu, pergunto-me quando poderemos ter em Angola lideranças que reúnam consensos extrapartidários, lideranças que estejam visível e verdadeiramente acima de partidos e ao serviço da Nação?

A Alemanha atravessa neste momento mais uma crise que se junta à da pandemia, já se contam mais de cem mortos confirmados devido às cheias dos últimos dias e ainda estão mais de mil pessoas desaparecidas num cenário de devastação que não era visto no país desde a segunda guerra mundial. Mas uma crise desta envergadura, mesmo uma que seja fruto de um desastre natural como é o caso, é sempre mais bem gerida pelas pessoas sob lideranças fortes, reconhecidamente inspiradoras.

E o que têm lideranças como a de Merkel, a do tio Celito e da mais jovem primeira-ministra do mundo, a neozelandesa Jacinta Ardern que também se tornou um símbolo mundial de competência na gestão da pandemia e que também reúne um consenso extrapartidário que lhe valeu uma reeleição com maioria absoluta? Esta é uma pergunta das que valem resposta, porque é evidente que o que têm em comum estes líderes é a empatia que conseguem demonstrar para com os liderados.  

Merkel demonstrou essa empatia com as pessoas que adoeceram, com as que perderam entes queridos está a fazer agora isso mesmo depois das chuvas mortíferas, a demonstrar essa empatia genuína, que alguns políticos - líderes de facto - têm o condão de transmitir a quem sofre que é instrumental em momentos de crise, é o que ajuda à superação coletiva.

Em Angola empatia e liderança nem parecem caber na mesma frase... O nosso PR carrancudo parece personificar a antítese da empatia, e o pior é que não é só ele. A falta de empatia, a distância entre governantes e governados é tal - já o era antes dele assumir a presidência - que a empatia parece nem fazer parte do léxico político. Nem mesmo dos governantes que se fartam de mostrar os dentes em sorrisos que, por vezes, de exagerados que são, nos levam a perguntar “está a rir de quê???”

A ministra da saúde, que devia ser uma dessas líderes com mais empatia genuína, devido à importância do pelouro que dirige, foi, com o seu carrancudo chefe, o alvo de vários apelos à empatia na semana passada por parte de doentes da junta médica em Portugal. O jornal Folha 8 e outros promotores e defensores dos direitos humanos organizaram o primeiro Fórum Internacional sobre o estado da saúde em Lisboa, e não faltaram apelos a essa empatia que tanto faz falta às nossas lideranças.

Apelos particularmente lancinantes vindo das bocas de pessoas que sofrem de insuficiência renal, dependem de diálise e que decorrentes dessa, têm outras doenças graves. Pessoas que afirmam que se forem obrigados a regressar a Angola nas condições de saúde que têm - estão a assinar a sua própria sentença de morte.

Foram reafirmadas questões graves de desvios de dinheiros que eram durante muitos anos pagos pelo governo e que não chegavam a esses doentes. Foi reconhecido que alguns doentes fizeram parte de esquemas. Mas sobretudo vê-se na decisão de os mandar a todos indiscriminadamente regressar a Angola, sem olhar para o estado de saúde de cada um, uma sobranceira e arrogante falta de empatia, que nem receio tem de ser responsável pelas mortes das pessoas que estavam aos cuidados do Estado.

E segundo o presidente do sindicato dos médicos, Adriano Manuel, algumas das pessoas que tiveram de regressar ao país por conta dessa decisão - já morreram.

Onde está a empatia com pessoas que estão a ser ordenadas a deixar a segurança física para se irem entregar a hospitais sujeitos à falta de tudo, incluindo de saneamento capaz de prevenir infeções que apanham com muito mais facilidade?

Pouco depois de ouvir daqueles doentes graves como foram mandados sair da segurança de hospitais ocidentais para os nossos que a ministra diz que estão aptos a dar resposta satisfatória, correu um vídeo na internet, precisamente de um doente renal em Luanda, a chorar porque já não tinha medicação, não havia disponível, e que iria morrer sem essa medicação, estava desesperado. Felizmente, e não graças a um sistema minimamente funcional, mas graças a uma gestão pública de imagem nas redes sociais, o homem foi socorrido a tempo e levado para uma clínica privada que sabemos estar longe do alcance da maioria das pessoas com doenças graves em Angola. Os que não têm facebook como fazem? Gestão ‘à doc’, impessoal, incapaz de fazer pela maioria e por isso pejada de falta de empatia - essa capacidade de se por no lugar dos outros que é vital que as lideranças tenham para que preservem o melhor possível a vida dos que lideram. A empatia, essa capacidade de se colocar no lugar do outro de compreender o seu sofrimento e de genuinamente sentir necessidade de o aliviar e que faz tanta falta aos nossos dirigentes. Essa capacidade que nos países mais desenvolvidos já incorpora o currículo ensinado na escola às crianças devido ao reconhecimento da importância que tem na formação dos indivíduos e das sociedades que futuramente vão criar.

Os melhores exemplos, quer nas estratégias educacionais quer nos estilos de liderança estão por aí...