E agora pergunto eu...

Numa semana em que se assinalou o dia dedicado aos refugiados e, numa altura em que se registam números recorde da condição miserável com mais de 70 milhões de pessoas a fugir da guerra, da violência e da miséria em várias partes do globo, as tensões entre os Estados Unidos da América (sempre) e, desta vez, o Irão, ameaçam novo conflito armado. Afinal, a indústria que factura com a guerra tem de se alimentar... O ataque a dois petroleiros, que os americanos se apressaram a atribuir ao Irão, depois o abate de um drone americano, foram motivo para um reforço substancial da presença bélica americana com tropas e armas na zona do médio oriente e, mais uma vez, está o mundo à beira de nova guerra.

Na Inglaterra, Boris Johnson, que vai responder em tribunal por ter deliberadamente enganado o eleitorado britânico a propósito do mal fadado Brexit, está mais perto do poder. No Egipto o ex-presidente Morsi morreu em tribunal sem que lhe conheçam crimes concretos para além do atrevimento de ganhar as eleições. Isto, enquanto o superministro da justiça brasileira, o superjuiz Sérgio Moro, ‘desMOROnou’ para parafrasear o brilhante trocadilho da revista VEJA, depois de ficar comprovada a sua parcialidade politicamente motivada. As misturas entre esferas institucionais, que se querem separadas a bem da higiene, da justiça e sucesso da governação dos países, são uma tentação irresistível para o poder em qualquer realidade. As mensagens trocadas entre o que era considerado o símbolo da luta contra a corrupção no Brasil, o ‘incorruptível e corajoso’, e os procuradores da operação Lava Jacto (que levou à prisão de lula da Silva, homem que seria certamente presidente novamente se não o tivessem afastado através deste golpe judiciário), são prova incontestável de que quando a justiça é usada para fins políticos a democracia definha e falece...

A propósito de democracia, por cá a palavra de ordem que se vai espalhando infecciosamente qual música pegajosa é “Não gostei”. Tudo porque ninguém gostou do Presidente dizer, em tom de ralhete depois de um jantar mal servido no quintal de casa, que não gostou de ouvir a AGT ser chamada de surda, num debate em que para além de surda e muda a instituição pública também se apresentou algo burra. Ninguém gostou da opinião presidencial intimidatória e hoje em dia à velocidade que se espalha a informação, as correntes e os chorrilhos de indignação espalham-se com demasiada facilidade para permitir semelhantes deslizes aos governantes.

O Presidente é uma instituição que até pelo tanto que tem para gerir deve estar muito acima destas trivialidades, para além de lhe ficar francamente mal reagir a um comentário de um cidadão, tipo Golias a tentar esmagar David, mostrando parcialidade, paternalismo e a mesma dificuldade de lidar com o contraditório que o levou a rotular a oposição moçambicana de “malandros” ou a afastar Boavida Neto que asseverou que não falaria mal de JES independentemente do que fizesse a carneirada. O episódio da nova infeliz escolha de vocabulário, a par talvez do uso da inusitada ‘prontidão combativa das forças armadas’ que deve proteger a nação e o povo em vez de um congresso de um partido, ofuscou o verdadeiro acontecimento protagonizado pelo PR esta semana, nomeadamente a vitória na dificílima missão de trazer de volta os dólares ao País. E agora pergunto eu, será que temos real noção do esforço necessário para desfazer as borradas que levaram à retirada dos correspondentes bancários do país e que condenaram a economia nacional à míngua, à descredibilização e aos juros elevados e dificuldades de financiamento associadas? É que nos distraímos de tal maneira com ‘pequenezes e mesquinharias’, mesmo as que são acidentais e não fruto da propaganda a que andamos todos expostos, que os verdadeiros temas, os que vão afectar negativa ou neste caso positivamente a nossa qualidade de vida, podem bem passar-nos ao lado. Na semana antepassada já o Valor Económico noticiava o regresso de gigantes da banca mundial como o Citibank e esta semana JLo recebeu os representantes da Reserva Federal Americana que depois de mais de um ano de diligências seguramente difíceis finalmente sinalizou que o embargo aos dólares em Angola vai terminar. Num quadro em que precisamos de boas novas, estas são excelentes notícias, trata-se do começo da reanimação da economia nacional. Bom trabalho, #Gostei, gostei muito!