Hélder Teixeira, treinador de futebol

Perto de comer o ‘pão que o 
diabo amassou’

Foi guarda-redes da selecção nacional e terminou a carreira no Petro de Luanda. Actualmente é treinador do Progresso do Sambizanga e deseja conquistar um campeonato nacional e uma 
taça de Angola e trabalhar com o argentino Diego Simeone. Ao NG, conta as dificuldades 
vividas no último ano, desde a péssima alimentação, até a noite dormida na mata.

Perto de comer o ‘pão que o 
diabo amassou’

O treinador considera ter boas relações com os colegas de profissão, quer nacionais como estrangeiros.

Hélder Teixeira acabou a carreira de jogador de futebol, mas não se desligou da modalidade. Apesar da crise que alguns clubes atravessam, considera ter tido uma carreira “boa” e já orientou clubes como Santa Rita, 1.º de Maio de Benguela e Mambroa. Hélder Teixeira define-se como um treinador “bastante atento” e com “vontade de evoluir na carreira. Como prova disto, são os cursos realizados de níveis um a três, o que lhe habilita treinar qualquer equipa, quer em África, quer na Europa, Ásia e Oceânia. Garante ter um conhecimento profundo na posição de guarda-redes e, às vezes, dá alguns palpites aos atletas desta posição, deixando o resto com o treinador de guarda-redes do clube.

Embora com muitos atropelos associados às dificuldades dos clubes, Hélder Teixeira elogia o futebol angolano, por “estar no caminho certo”, mas ainda defende que haja “mais investimentos para se melhorar a qualidade, produtividade e competitividade entre clubes. Como exemplo, cita a boa campanha realizada pelo Petro de Luanda e o 1.º de Agosto nas Afrotaças e daí a Confederação Africana de Futebol (CAF) acrescentar mais um clube na liga dos clubes campeões. “É fruto de muito trabalho dos clubes e treinadores”, conclui.

 

CHICOTADA e sem prémios

No início da temporada do ano passado, a direcção do seu actual clube tinha-o dispensado por alegada falta de condições financeiras para manter os salários, não estando em causa os resultados da equipa no campeonato. Mas a direcção do Progresso do Sambizanga, presidido por Paixão Júnior, recuou na decisão, tendo chamado o treinador para regressar ao comando da equipa. O clube terminou o campeonato em 8º lugar com 37 pontos.

Mas o clube continua a viver com inúmeras dificuldades financeiras, como consequência da crise. Teve de recorrer aos préstimos de um técnico dos seus quadros que conseguiu terminar o resto da temporada. Hélder Teixeira confessa que viveram momentos difíceis, desde a alimentação “péssima” e até o ter de “passar uma noite na mata”, porque o autocarro teve problemas técnicos. Além dos atletas, os funcionários do clube também vivem o drama da falta de salários e a solução encontrada foi a direcção ter posto à disposição dois mini-autocarros para fazer serviços de táxis.

O técnico sublinha que não ‘comeu o pão que o diabo amassou’, mas esteve “próximo disto” e também não pretende viver a mesma situação com os seus atletas. 

 

RELAÇÃO COM OS COLEGAS

O treinador considera ter boas relações com os colegas de profissão, quer nacionais como estrangeiros, mas não gosta de ouvir chamar os expatriados de professores e ver os angolanos relegados para segundo plano. Hélder Teixeira entende que “todo o treinador é professor e deve ser tratado da mesma forma”.  Mostra-se solidário com a situação do antigo capitão da selecção nacional, ‘Akwá’, sobre a divida que este possui e garante quer o Estado, como a Federação Angolana de Futebol não podem virar as costas antigo jogador, considerando-o “uma referência do futebol angolano” e, por isso, “deve o nosso respeito”. O ex-deputado e capitão dos Palancas Negras não trabalha como profissional de futebol por estar sancionado pela FIFA e precisa de pelo menos 260 mil dólares, cerca de 82,5 milhões de kwanzas, para pagar a multa no cklube Qatar SC.

 

Admirador de Simeone

Hélder Teixeira estreou-se como treinador principal, em 2008, ao serviço do Recreativo da Caála, ainda na II divisão. Um ano depois, rumou ao Benfica do Huambo, também na II divisão, onde também depois de um ano foi para o Kafanda do Bengo, ainda na mesma divisão. Regressou ao Recreativo da Caála em 2011, para coordenar as camadas de formação e treinar a equipa de juniores, com a qual viria a sagrar-se vice-campeão nacional em 2014, depois de ter sido terceiro classificado no ano seguinte.

Como futebolista, notabilizou-se no Benfica do Huambo, ainda muito jovem, proveniente do Desportivo de Benguela. Atingiu o auge da carreira defendendo a baliza do Petro de Luanda, onde foi tricampeão nacional (1993, 1994 e 1995), vencedor de duas taças de Angola e duas supertaças. Entre 1994 e 1995 era presença constante nas convocatórias da selecção nacional, nos torneios de apuramento ao campeonato do Mundo e de África. Admira a entrega e a garra do treinador argentino Diego Semione e confessa que gostaria de trabalhar com ele, mas sente-se um adepto do Manchester City.