Na maternidade ‘Lucrécia Paim’ em Luanda

Bebé ‘quase desaparece’ na morgue

Uma mulher deu à luz uma criança que foi dada como morta. Mas o corpo ‘desapareceu’. Funcionários da maternidade encontraram-no numa gaveta para adultos. A família indignou-se. A direcção do hospital assumiu as culpas pelo erro.

Bebé ‘quase desaparece’ na morgue

Luísa Marcelino António, de 32 anos de idade, mãe de cinco filhos, sentindo fortes dores de estômago foi assistida na maternidade ‘Lucrécia Paim’, em Luanda. Recebeu o diagnóstico que tinha a tensão arterial muito alta. Como estava grávida, a solução passou por realizar uma cesariana. A decisão dos técnicos de saúde foi concretizada horas depois tendo dado à luz uma criança que, supostamente, vinha “sem vida”. Só que uma das especialistas envolvida no processo terá confidenciado aos familiares que a criança “estava bem”.
Passadas algumas horas, os familiares procuraram ver o corpo do ‘recém-nascido’. Felícia António, irmã da parturiente, cruzou as informações de que a criança estava bem, com as de que teria nascido morta. “Aceitando essa possibilidade, fomos ver na morgue, não havia registo de algum corpo com o nome da minha irmã”, desabafa. Pensou de imediato que o corpo tinha sido desviado.
O responsável da morgue garantia, a pés juntos, que “não existia” naquela morgue, um cadáver de um recém-nascido, cuja mãe se chamava Luísa António. Os registos no turno anterior “não faziam menção” a qualquer criança.
No entanto, horas depois e após tanta procura, o corpo foi encontrado junto com um cadáver de adulto, numa das gavetas da morgue. De acordo com as regras, o procedimento normal seria colocar a criança numa gaveta adaptada.
À reportagem do NG, o director clínico, Francisco Quinto, reconheceu as “falhas” na prestação de informações por parte dos funcionários. O responsável reconheceu também ter ficado “surpreendido ao tomar conhecimento de que o cadáver não se encontrava” na morgue.
O corpo, que devia ser colocado nas gavetas destinadas a crianças, foi posto numa de adultos, pelos novos funcionários, recrutados recentemente. “Não havia intenção de o cadáver ser roubado ou feito qualquer outro tipo de serviço”, garante o responsável clínico. A morgue do hospital foi criada com gavetas para colocar corpos de adultos e não de crianças.
O director clínico admite que quem levou o corpo “não fez o registo certo, tendo trocado por não saber os procedimentos”. A direcção do hospital só conseguiu ‘descobrir’ o corpo, depois de realizar uma busca com a equipa que tinha trabalhado na noite anterior.
Ainda assim, o registo não correspondia com os dados da mãe. A criança não tinha qualquer papel, nem sequer uma fita que pudesse identificar a mãe. Francisco Quinto justifica com os procedimentos: “os nados mortos não usam a manilha que é colocada nas crianças vivas, apenas é elaborado um processo, que possibilita a criança ser levada para a morgue”, explicou.
De acordo com dados da maternidade, diariamente são realizados aproximadamente 88 partos, em que 37 são realizados por cesariana, mas não há uma estatística sobre o número de mortes.
Os familiares revelam que, logo nas primeiras horas, lhes foi dito que o bebé estava morto. A primeira informação, transmitida via telefone, até garantia que a criança se encontrava “bem” e que a mãe precisava de uma transfusão de sangue. A maternidade pedia, por isso, uma doação de sangue
Depois de quatro horas de muita discussão e negociação, até intermediada pelo NG, a direcção do hospital pediu desculpas pelos transtornos e a família acabou por aceitar, tendo solicitado apoios da direcção do hospital, aceites pela direcção, que prometeu punir os funcionários que não conseguiram informar.

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