Secretário provincial anuncia medidas que vão mudar o sector

Educação em Cabinda com reformas à vista

Um dos homens mais críticos do anterior Governo, Casimiro Congo, agora secretário provincial da Educação promete, a partir do próximo ano, fazer profundas reformas. Entre elas, o fim do ensino nocturno e a redução de professores com dupla efectividade em 90 por cento. E garante não estar agarrado ao lugar, caso seja contestado.

Educação em Cabinda com reformas à vista
DR
Padre Congo reafirma manter a sua posição de proibição do us

Poderei ser considerado radical devido às mudanças que vou empreender, mas vou fazer, ainda que isso me custe a perda do cargo”, foram com estas palavras que o secretário provincial da Educação em Cabinda iniciou a entrevista ao NG.

Casimiro Congo apresentou uma proposta para a construção de 32 escolas do ensino geral, nos próximos anos, com vista à redução de crianças fora do sistema de ensino que rondam os cinco mil. A proposta é o resultado de uma auscultação às administrações municipais e autoridades tradicionais.

Nos planos do secretário da Educação, consta a reabilitação do Magistério local. O responsável, que foi crítico do Governo, garante estar a trazer para a governação de Cabinda “outra maneira de pensar”. Defende que se devem descongestionar as cidades e priorizar a construção de escolas na periferia. Segundo justifica, manter tudo nos centros urbanos “tem contribuído para a pobreza, não apenas económica, mas também antropológica das comunidades”, argumentando que, quando “uma pessoa deixa os pais na periferia e vai em busca de oportunidade nas cidades, perde valores culturais”. Por isso, no seu mandato, quer inverter o quadro.

Em Cabinda, o rácio de professor/aluno preocupa as autoridades, é de um professor para 50 estudantes e há salas com 90 alunos. Casimiro Congo quer reduzir o número para, pelo menos, 30 alunos por turma para que o professor conheça o potencial e as fraquezas de cada um.

 

REFORMAS SÉRIAS

Entre as medidas a serem tomadas já no próximo ano constam o fim paulatino do ensino nocturno, seja para adultos como para crianças. Casimiro Congo justifica não fazer sentido Angola continuar a ser o único país em África com ensino nocturno quando a guerra já terminou há 16 anos. “O que se verifica é que os alunos não vão para as aulas, ficam a fazer outras coisas e os poucos que vão são mal preparados, mas com a ‘máfia’ existente passam de classe e têm diplomas”, lamenta, salientando que “se não tomarem medidas, [estarei] a mentir a mim mesmo”.

Entre as reformas, o secretário provincial promete acabar com a prática, que ele considera de “transformar a escola pública num lugar de ganhar dinheiro”. Pretende reduzir para 90 por cento o número de professores que dão aulas em colégios e simultaneamente nas escolas do Estado. “Não se trata de acabar com os colaboradores, mas a margem destes professores será apenas de 10 por cento, a partir do próximo ano”, promete.

Padre Congo, como é conhecido em Cabinda, reafirma manter a sua posição de proibição do uso de cabelo brasileiro nas escolas, por se tratar de um perigo à saúde pública, além de ser uma medida que pretende defender os valores culturais da região.

“Poderei ser considerado radical devido às mudanças que vou empreender, mas vou fazer, ainda que isso me custe a perda do cargo”, repete, com a convicção de que as reformas são feitas apenas em nome de Angola que se pretende desenvolvida. “Vou ser implacável, se perder o cargo, volto para a universidade onde dava aulas”.

Casimiro Congo, excomungado da Igreja Católica, voz crítica de Cabinda, avisa que vai manter a sua postura crítica ao Governo como forma de “ajudar o país”. Entende que Angola tem espaço para todos e não pode haver exclusão. “Todos, se cada um colocado no seu lugar, teremos espaço”, afirma, salientando que a sua presença na Educação significa que o novo Presidente terá feito essa leitura, pensa da mesma maneira”.

Casimiro Congo manifesta-se contra as prisões de ex-governantes, “nem da caça às bruxas, mas defende a moralização da sociedade para a normalização da vida social, sem olhar para nomes.

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