Em Luanda, Bengo, Zaire e Uíge

SOS voluntário nas estradas

Uma ONG reúne cerca de quatro mil voluntários para acudir vítimas de acidentes, nas estradas e nos bairros. Mas debate-se com muitas dificuldades, físicas e do próprio interesse de quem pode ajudar sem receber nada em troca.

SOS voluntário nas estradas
Manuel Tomás
a organização

Guerra da Silva Mwandapresidente da AADCA

Em Angola, as pessoas não estão habituadas a fazer o bem de forma voluntária, estão acostumadas a fazer o bem em troca de alguma coisa.

A Organização Não-Governamental (ONG) Associação de Apoio e Desenvolvimento às Comunidades Angolanas (AADCA) lançou brigadas de socorristas que actuam nas estradas, pontes pedonais, praias e bairros, consideradas zonas de risco e prestam auxilio a vítimas de acidentes e sinistrados de calamidades naturais. A organização, que já tem representações em Luanda, Bengo, Zaire e Uíge, enfrenta dificuldades para encontrar voluntários e carece de meios de transporte e de equipamentos, como macas e ‘kits’ de primeiros socorros.

De acordo com dados da Direcção Nacional de Viação e Trânsito (DNVT), diariamente são registados, em média, 10 acidentes com vítimas mortais em todo o país. Só Luanda tem, em média, dois a cinco acidentes. Muitas das vítimas morrem no próprio local, mas há as que não resistem durante o transporte ou mesmo no hospital. E estas últimas não entram nas estatísticas.

A pensar na melhor forma de prestar assistência às vítimas no local, é que a AADCA criou o serviço voluntário de ‘Socorristas’, que vigiam as pontes pedonais, estradas, praias e bairros. O principal foco da organização é prestar os primeiros socorros às vítimas de acidentes e de calamidades naturais. Além disso, dão assistência no transporte para os hospitais. Por semana, a organização, só em Cacuaco, socorre 10 a 12 casos, em especial às segundas, sextas e sábados.

Os ‘Socorristas’, de uniformes cinzentos, têm o apoio dos diferentes hospitais e da Polícia Nacional, órgãos que solicitam a ajuda, de “imediato”, sempre que há um acidente.

Os socorristas prestam ainda assistência e ajuda a grandes eventos, religiosos e outros, que registam “maior afluência” de pessoas.

Apesar deste esforço, o líder da AADCA, Guerra da Silva Mwanda, lamenta a falta de solidariedade e de apoios. Nas suas acções, a organização “não recebe financiamento de outras entidades”, sendo o presidente da organização o “único” a tirar do seu bolso para financiar a associação. Os membros que deviam pagar quotas “não o fazem “, queixa-se Guerra Mwanda. “Em Angola, as pessoas não estão habituadas a fazer o bem de forma voluntária, estão acostumadas a fazer o bem em troca de alguma coisa, gostam de ser pagas, até mesmo os nossos membros têm esse espírito.”

Para este responsável, “quem está no associativismo deve ter espírito de voluntariado. “Não é fácil encontrar, no país, pessoas com este espírito”, reforça.

A organização precisa de meios de transporte, como motorizadas. Guerra Mwanda está convencido de que, se tivesse esses meios, poderia colocar em toda a extensão de Luanda mais de mil socorristas. Também precisa de computadores, macas e mais especialistas formados em medicina. Dos 3.990 membros da organização, a maioria é formada em enfermagem e muitos tentam conseguir as respectivas carteiras profissionais na Ordem dos Enfermeiros de Angola (Ordenfa). “Os primeiros documentos que mandámos para a Ordem voltaram por serem ilegais, ou seja, as escolas em que muitos estudaram não estão autorizadas a administrar o curso e agora estamos a fazer a segunda triagem para vermos a veracidade dos documentos”, revela Guerra Mwanda. Esse trabalho poderá confirmar a veracidade dos documentos de 217 técnicos. A organização tem uma parceria com a Ordenfa.

Nkondua Mazambi Morais, instrutor do Socorrismo, garante que os especialistas fazem a sensibilização e mobilização das populações. “Em alguns locais, os acidentes são comunicados pelos moradores ou testemunhas que ligam para a organização”, conta.

 

Formação em línguas

Para melhor desenvolver o trabalho e colmatar a falta de técnicos, a AADCA possui um centro de formação profissional que ensina enfermagem, socorrismo, inglês, francês, kikongo, umbundo e kimbundo. Com os cursos, a organização pretende promover e incentivar as pessoas a falarem as línguas angolanas “mais faladas no país”. Segundo o responsável “grande parte das populações tem as línguas angolanas como bilhetes de identidade”, ou seja, “servem de identidade”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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