Presidentes

Bastou a João Lourenço fazer duas referências para lançar o grande debate no meio de historiadores e académicos sobre o MPLA. E colocar em causa aquilo que sempre nos ensinaram.

A primeira – que é quase uma notícia – anunciou que pretende celebrar o 100.º aniversário do nascimento de Agostinho Neto condignamente. É já para 2022 e é de saudar a intenção. O Governo deveria, desde já, constituir uma comissão para preparar esse centenário. Para que não aconteça que, nas vésperas e à pressa, se organize um concerto com dezenas de cantores e assim se entenda que é uma festa digna do primeiro Presidente de Angola. É de saudar também a intenção de João Lourenço de não remeter Agostinho Neto para a prateleira de ‘poeta maior’, como tentaram, durante anos, os bajuladores de José Eduardo dos Santos.

A outra grande novidade foi João Lourenço mudar a historiografia do MPLA. Até sábado, sabia-se que o partido tinha tido dois presidentes. Os outros ‘desapareceram’. Mário Pinto de Andrade, vagamente, aparecia em manuais. Foi um dos que divergiu com a direcção do movimento e logo ficou proscrito.

Ilídio Machado, no sábado, foi ‘condecorado’ primeiro presidente do MPLA. Mas erradamente. É justa a homenagem que todos os angolanos lhe podem fazer, mas certamente não será essa a de colocar num lugar que nunca foi seu. João Lourenço quer acertar o passo com a historiografia. O MPLA garante ter sido fundado em 1956. Logo teria de arranjar alguém que o liderasse desde essa altura até 1960.

No entanto, o MPLA não foi fundado em 1956. Não há um único documento que o prove. Há sim um manifesto que reclama a necessidade de se criar um amplo movimento. Um texto escrito por Lúcio Lara, Viriato da Cruz, Ilídio Machado e outros revolucionários. Mas a intenção era reunir, numa única organização, os diferentes movimentos e partidos que na clandestinidade enfrentavam o colonialismo. O que viria acontecer mais tarde.

O MPLA, como movimento organizado, surge apenas em 1960. E reivindica os ataques de ‘4 de Fevereiro’ já como organização. Foi, aliás, o primeiro sinal de ‘vida’. Falta portanto ao MPLA um estudo sério sobre a História de Angola. 

 

 

 

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