SEGUNDA AMÕES, A MORTE AOS 51 ANOS

O empresário sonhador

Criou empresas e tinha na aldeia Camela Amões um exemplo de recuperação e fixação de zonas rurais. Não conseguiu concretizar o sonho de fazer 50 ‘camelas’ por todo o país. Destacou-se nos negócios, apesar de ter estudado engenharia.

O empresário sonhador
D.R

Segunda Amões faleceu a 4 de Dezembro, aos 51 anos, na África do Sul, vítima de
doença. Liderava desde Julho de 1997 o Grupo ASAS, destacou-se nos últimos anos a reerguer a aldeia Camela Amões, no Huambo. Previa gastar só na conclusão da 1.ª fase do
projecto 400 milhões de dólares. Da agenda, constava ainda a intenção de replicar o projecto, construíndo mais aldeias nos próximos 50 anos.

O empresário e amigo da família, Luís Cupenala, com quem Amões se cruzou no Grupo Wapossoka Nambula, defende o trabalho feito pelo empresário angolano como uma
“referência para as novas gerações”, destacando “o trabalho que fez na área social”, como sendo “ímpar e que devia ser aproveitado e replicado”. António Segunda Amões começou como empresário nos anos de 1980, altura em que os irmãos mais velhos foram transferidos para o Kuando-Kubango para abrirem a alfaiataria Wapossoka.

Aos 17 anos, juntou-se aos irmãos, na altura como ajudante. Na ausência deles, tomava conta do negócio. A partir daí, nunca mais parou.

Em 1991, fundou a própria empresa, a Angostroi, em Luanda, ligada à construção civil. A empresa recuperava infra-estruturas essencialmente de escolas e hospitais, chegando a trabalhar para mais de dez províncias.

Os governos do Moxico e do Huambo eram os maiores clientes. Com o crescimento do mercado e com vontade de atender algumas necessidades típicas do país, criou outras instituições também no ramo da construção civil como Soatel, Salovil e Seryl. Nem a guerra civil conseguiu travar a sua ambição de crescer no mundo empresarial.

Em 1997, fundiu todas as empresas dando assim origem ao Grupo ASAS, de que era presidente do conselho de administração, até a data da sua morte. O Grupo ASAS é proprietário de vários empreendimentos, operando em áreas como a imobiliária, transportes e construção civil. Tem um valor estimado em mil milhões de dólares.
Para ajudar a enfrentar a crise económica, Segunda Amões resolveu alargar os negócios, dando-lhe um cariz mais filantrópico. Foi assim que nasceu a ideia de revitalizar, cujo
exemplo-piloto foi implementado na aldeia Camela Amões, no Huambo.

Previa até 2025, no final da primeira fase do projecto, gastar 400 milhões de dólares, o que incluía a construção de duas mil casas sociais, duas igrejas, um centro médico, 15 escolas do I e II ciclos, uma lavandaria, creches, padaria e uma zona fabril.

A Aldeia Camela Amões é o símbolo máximo do empreendedorismo virado para a comunidade, liderado por Segunda Amões. A aldeia está localizada no Huambo, numa área
de 40 mil hectares, com três tipologias de casas e cerca de 30 aldeias circundantes. As casas estão avaliadas em oito milhões de kwanzas, são entregues completamente equipadas, mas não podem ser pagas a dinheiro, apenas com produtos, uma forma de evitar o êxodo rural e elevar a qualidade de vida do campo.

Trabalham aqui mais de 50 técnicos, todos angolanos. A execepção é uma família brasileira que cuida da área turística e dos animais, ou seja, 99% dos quadros são angolanos. A intenção também era o de provar a capacidade da mão-de-obra angolana. “Não acredito no
milagre vindo de fora e também porque o estrangeiro acaba sempre por nos cobrar em dobro. Pelos gastos que fizemos ao longo dos últimos 40 anos, tendo em conta a minha
pequena experiência, estaríamos todos muito bem de vida se tivesse
sido bem aplicado todo o dinheiro envolvido; seríamos hoje uma referência em África, do ponto de vista do desenvolvimento humano”, afirmou o empresário numa entrevista
dada à Angop, em 2018.

O empresário Luís Cupenala recorda Segunda Amões como um homem “dinâmico, visionário e com o senso de responsabilidade muito elevado” desde muito cedo, e acredita que o espírito empreendedor terá herdado dos irmãos com quem “aprendeu muito”. “O país perde um grande cérebro e um grande empresário e um grande filho e que tinha ainda muito para contribuir para economia e crescimento do país”, lamenta, lembrando que Segunda Amões foi uma figura importante como empresário, ultrapassou fronteiras de Angola e impunha os seus investimentos noutros países como, por exemplo, na África do Sul onde fez investimentos de grande escala em várias indústrias ligadas ao turismo e a outras áreas.

Segunda Amões nasceu na aldeia Camela, comuna do Chiumbo, do Cachiungo, Huambo. Formou-se em Geologia de Petróleos na antiga União Soviética e tinha um bacharelato em Direito e especializações em Gestão e Economia. A veia de empreendedor é uma herança de família. Desde cedo, ajudou a mãe nas vendas no mercado, de onde corria para a escola, além de apoiar os dois irmãos mais velhos, Faustino e Valentim Amões, no negócio da venda de café, no Calilongue da Cuca, periferia do Huambo.

O irmão Valentim Amões morreu num acidente de avião, em Janeiro de 2008.

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