Morre o ciclista Alberto Silva ‘Pepino’ aos 95 anos

Morreu o ciclista, ficou a lenda

Alberto Silva, mais conhecido por ‘Pepino’, morreu aos 95 anos. Deixa a sua marca no ciclismo angolano e internacional. Foi campeão mundial para atletas na terceira idade, conquistando duas medalhas de ouro em provas de contra-relógio e de fundo. Aos 90 anos, ainda percorria, de bicicleta, mais de 40 quilómetros.

Morreu o ciclista, ficou a lenda

“Quero agradecer tudo o que estão a fazer e agradeço a Deus por ter ajudado a chegar à idade que cheguei. Vejo as figuras que estão à volta de mim, surpreendeu-me bastante e surpreendo-me a vossa deslocação para estar aqui e fazer-me lembrar algumas coisas. Vou contar a minha vida daqui a uma semana e vou escrever um livro”. Estas foram as últimas palavras de Alberto Silva ‘Pepino’, proferidas em acto público a 1 de Julho, durante a homenagem que recebeu em Benguela feita pelo Ministério da Juventude e Desportos, defendendo a institucionalização de um torneio nacional e internacional em seu nome.

Apesar de aparentar ter saúde de ‘ferro’, já que continuava, aos 95 anos, a correr de bicicleta, a morte fintou-o. Não teve tempo de escrever o ambicionado livro de memórias. Morreu na madrugada de sábado no hospital Geral de Benguela, em consequência de uma complicação respiratória. As reacções não se fizeram esperar.

Aclamado como ‘gladiador do asfalto’, Alberto Silva ‘Pepino’, natural de Benguela, onde nasceu em 1922, completaria 96 anos a 24 de Outubro. O veterano e coleccionador de troféus deixa um vazio no ciclismo e no desporto em geral. Praticou atletismo, jogou futebol, ainda nas décadas de 1930 e 1940, mas dedicou-se, por completo, ao ciclismo, batendo recordes de longevidade.

Quando celebrou 95 anos, no ano passado, percorreu 47 quilómetros com outros ciclistas, numa passeata por Benguela.

Jaime Azulay, jornalista radicado em Benguela, escreveu na sua página do Facebook que era “impossível ficar indiferente”, quando se via ‘Pepino’, vergado sobre a sua bicicleta, “pedalando firme, sem lamentos, superando um desafio aos seus limites”. O jornalista conta ainda que, em 1973, quando Alberto Silva tinha 53 anos, correu a pé, em 47 horas, a distância vai do Huambo a Benguela. Foi uma aposta que fez com amigos e ganhou, na altura, 100 contos portugueses pelo feito alcançado. Mais tarde, voltou a percorreu as seis centenas de quilómetros que separam Benguela e Luanda, logo a seguir à proclamação da Independência Nacional, em memória das viúvas e dos órfãos da guerra angolana. Em 2005, decidiu fazer o mesmo percurso em bicicleta, repetindo a proeza.

Jaime Azulay revelou à agência Lusa que, durante o Campeonato das Nações Africanas, chegou-se a admitir dar o nome do veterano ciclista ao estádio de Benguela. “ O CAN passou e, infelizmente, o nome de ‘Pepino’ foi preterido e o estádio foi baptizado com um nome (primeiro Estádio Nacional de Ombaka e, depois, Estádio Edelfrides da Costa Palhares ‘Miau’), cujas origens e significado carecem de certificação científica para serem aceites”, acrescentou.

Recentemente, o veterano ciclista, mesmo tendo mais de 90 anos, pedalou 34 quilómetros em uma hora e 44 minutos e 38 segundos, no percurso Benguela-Talamajamba, uma iniciativa inserida nas manifestações alusivas aos 57 anos do início da luta armada.

Em 2009, ‘Pepino’ participou, em São Francisco na Califórnia, EUA, nos Jogos Olímpicos da terceira idade e volta em 2013, onde foi campeão mundial na sua categoria, conquistando duas medalhas de ouro em provas de contra-relógio e de fundo.

 Reacções

João Lourenço, 
Presidente da República

“Associo-me à dor da família. As qualidades de ‘Pepino’ são as melhores expressões de um legado de humildade, de força, de disciplina, de dedicação ao desporto e de amor à pátria. ‘Pepino’ deve servir de exemplo às actuais e futuras gerações de desportistas e de angolanos.

 Cremilde Rangel, 
presidente da Federação Angolana de Ciclismo

O desporto angolano está de luto e Angola e o ciclismo perde um filho e um atleta e uma referência para o desporto internacional. Desejo à família as mais sentidas condolências e muita força para continuar com o legado do veterano ‘Pepino’.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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