Na Guiné-Bissau

País em risco de excesso de mortalidade por outras doenças

A médica guineense e especialista em Saúde Pública, Magda Robalo, alertou hoje para o risco de um excesso de mortalidade na Guiné-Bissau causada por outras doenças, apontando fragilidades na resposta à covid-19.

País em risco de excesso de mortalidade por outras doenças
D.R.

 

"O estado de emergência levou a zero a mobilidade e fez com que a população tivesse muito pouco acesso a cuidados de saúde para outras patologias, nomeadamente o VIH/Sida, tuberculose, malária, e corremos o risco de ter um excesso de mortalidade causado por outras doenças que não a covid-19", disse Magda Robalo.

"Esta é uma realidade que ainda não está documentada", acrescentou a especialista, admitindo que possa nem vir a ser documentada num momento em que a crise sanitária está a ser agravada pela crise política, que se prolonga desde Dezembro.

A também ex-ministra da Saúde da Guiné-Bissau, falava hoje numa conferência ‘online’ sobre o aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África lusófona, organizada pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e Comunidade Médica de Língua Portuguesa.

Magda Robalo traçou o panorama da evolução da pandemia, adiantando que o país registou "um aumento exponencial" de casos a partir de 26 de Abril, quando foi notificada a primeira morte por covid-19 na Guiné-Bissau.

"Passamos de 53 casos para cerca de 1.000 no espaço de três semanas", disse, explicando que a primeira morte foi de um alto responsável do Ministério do Interior que "terá estado em várias actividades em todas as regiões do país".

"A partir daí tivemos uma explosão de casos, que afectou vários membros do Governo, incluindo o primeiro-ministro, vários médicos, enfermeiros e pessoal administrativo do sistema de saúde e vários polícias", acrescentou.

A médica assinalou o facto de a Guiné-Bissau ter hoje mais casos de infeção pelo novo coronavírus (1.256) do que a soma dos restantes países africanos lusófonos, com registo de oito mortes confirmadas e seis outras em que a causa de morte está a ser verificada.

"Poderíamos ter controlado esta explosão de casos se as medidas de isolamento tivessem sido mais drásticas e mais bem implementadas", afirmou, salientando que existe actualmente transmissão comunitária do vírus em Bissau e casos em quatro regiões.

A fraca capacidade do sector da saúde, com falta de pessoal qualificado, de equipamento e de um serviço de cuidados intensivos que possa responder à gravidade dos casos, e a insuficiente capacidade de diagnóstico, com apenas um laboratório que não cobre a periferia, foram apontados por Magda Robalo como alguns dos principais desafios na luta contra a doença.

"A nossa fraca capacidade laboratorial tem sido um freio à resposta à pandemia", admitiu, apontando igualmente falhas na aplicação de medidas de prevenção e controlo nos hospitais, nomeadamente medidas de higiene e uso de equipamentos de protecção.

Por outro lado, identificou o surgimento de "um estigma" associado à doença com recusa das populações em fazerem o teste e a contestarem os diagnósticos constantes das certidões de óbito de familiares mortos com covid-19.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 360 mil mortos e infectou mais de 5,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

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