Angola continua entre os piores do mundo na malária

Mais de quatro milhões de casos em 10 meses

Desde o início do ano, a malária matou 9.481 pessoas em mais de quatro milhões de casos registados em Angola. O orçamento do programa de combate à doença vai sofrer um corte de cerca de 70 por cento no próximo ano, o que deverá implicar reestruturação e definição de novas prioridades.

Mais de quatro milhões de casos em 10 meses
Manuel Tomás
Angola entre os piores do mundo na malária
José Franco

José Francocoordenador do PNCM

Desde o início do ano, a malária matou 9.481 pessoas em mais de quatro milhões de casos registados em Angola. O orçamento do programa do combate à doença vai sofrer um corte de cerca de 70 por cento no próximo ano, o que deverá implicar reestruturação e definições de novas prioridades.

Só este ano, a malária matou, por dia, pelo menos 31 pessoas. De Janeiro a Outubro, o Programa Nacional de Combate à Malária (PNCM) registou 9.481 mortes em mais de quatro milhões de casos, quando, no ano passado, foram mais de três milhões que resultaram em mais de 11 mil óbitos. Números que contrastam com os da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), que calculou, no ano passado, mais de 4,5 milhões de casos e quase 14 mil óbitos.

Segundo o PNCM, os números são superiores aos de 2016, em que se deu a epidemia de febre-amarela, com 4,4 milhões de casos notificados, com o Uíge, Bengo, Zaire, Huambo e Benguela a liderarem as estatísticas. 

O Governo prepara-se para cortar em quase 70 por cento as verbas alocadas ao PNCM. Na proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019, estão previstos 2,3 mil milhões de kwanzas, números abaixo dos 7,7 mil milhões orçamentados para 2018, um corte que poderá pôr em causa a meta estabelecida no Programa de Desenvolvimento Nacional (PDN 2018-2022), que prevê reduzir, para 10 por cento, a taxa de mortalidade por malária até 2022, contra os actuais 15 por cento.

De acordo com o coordenador do PNCM, José Franco, com a redução da verba, o programa vai sofrer uma reestruturação, o que, para o responsável, “não significa que se vá deixar de realizar grande parte das actividades”. “Vamos gizar as prioridades, mas contamos com a conjugação de esforços do Ministério da Saúde e dos parceiros, com um plano operacional para optimizar os resultados face aos cortes.”

A malária, além de ser a principal causa de morte, é o maior motivo de internamentos hospitalares e de abstenção escolar e laboral. Apesar da escassez de tratamentos e de testes rápidos, José Franco garante haver stock “suficientes” para quatro meses.

Em Julho, Angola recebeu do Fundo Global cerca de 13 milhões de dólares e perto de 20 milhões da USAID/PMI para o financiamento de projectos de controlo da doença, sendo que o programa enfrenta dificuldades com a insuficiência de recursos humanos.

José Franco adverte para a necessidade de se melhorar a informação sanitária, enquanto “base para qualquer planificação”.

 

Mais de 219 milhões no mundo

Angola e Moçambique figuram entre os países que retrocederam na luta contra à doença em 2017, segundo o Programa Mundial contra à Malária da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No ano passado, foram 219 milhões de casos no mundo. Só África teve 200 milhões. Destes, Angola registou mais de 2,25 por cento, representando mais de 4,5 milhões de casos.

Já das 435 mil mortes, 403 mil foram em África, quase 93 por cento, 3,21 por cento das quais em Angola. A lista é liderada pela Nigéria, com 19 por cento, seguida pela República Democrática do Congo (RDC), com 11 por cento; Burquina Faso, seis por cento; Tanzânia, cinco e a Serra Leoa e o Níger com quatro por cento cada um.

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