Liderou a ONU durante 10 anos

Kofi Annan, um africano na luta pela paz

O ex-secretário geral da ONU e prémio Nobel da Paz morreu aos 80 anos. Foi o primeiro africano negro na liderança da ONU. É descrito como um conciliador, mas tem uma nódoa no currículo: o genocídio no Ruanda. O maior sucesso foi o combate à sida.

Kofi Annan, um africano na luta pela paz

Morreu Kofi Annan, o primeiro africano negro a liderar a Organização das Nações Unidas (ONU). O diplomata ganês e prémio Nobel da Paz, em 2011, morreu, em Berna, na Suíça, no passado sábado, aos 80 anos, depois de “uma breve doença”, lê-se no comunicado da família.

Descrito como “um filho do Gana” que “sentia uma grande responsabilidade para com o continente africano”, Kofi Annan cumpriu dois mandatos à frente das Nações Unidas (de 1 de Janeiro de 1997 a 1 de Janeiro de 2007). Foi o sétimo secretário-geral da ONU. Nascido em 1938 em Kumasi, Kofi Annan foi o primeiro funcionário das Nações Unidas a chegar ao topo da organização. Estudou Economia e licenciou-se em Relações Internacionais. A sua ligação a África manteve-se ao longo de toda a vida e uma das suas grandes batalhas foi precisamente o desenvolvimento dos países africanos. Destacou-se principalmente, durante a guerra do Iraque, opondo-se à invasão norte-americana, e na luta contra o HIV/Sida, cuja criação do Fundo Global de Luta contra a Sida, Tuberculose e Malária valeu-lhe vencer o Prémio Nobel da Paz.

Em Angola, tentou ajudar para se alcançar um acordo de paz. Encontrou-se com Jonas Savimbi, no Bailundo, ainda dominado pela UNITA, em 1998. Antes, foi recebido por José Eduardo dos Santos, em Luanda. Apesar dos esforços, a guerra não terminou o que só viria acontecer em 2002, com a morte do líder da UNITA.

Kofi Annan integrou os quadros da ONU em 1962 como funcionário administrativo da Organização Mundial de Saúde (OMS) e, mais tarde, trabalhou para a Comissão Económica para a África, em Addis Abeba, Etiópia. Antes de se tornar secretário-geral da ONU foi Alto-Comissário para os Refugiados (ACNUR). É a partir daqui que Annan não ganha consenso sobre o papel positivo que desempenhou na ONU, somando alguns fracassos.

O primeiro foi a inércia parar o genocídio de 800 mil ruandeses em 1994, quando dirigiu as operações de manutenção da paz da ONU. Um ano depois, também falhou no massacre de Srebrenica, na Bósnia, onde morreram mais de oito mil pessoas. Uma investigação independente em 1999 sobre o genocídio de 1994 descobriu que a ONU tinha falhado no Ruanda. Annan, então secretário-geral, reconhecia o erro: “Todos nós devemos lamentar que não tenhamos feito mais para evitar isso”. “Em nome da ONU, reconheço este fracasso e expresso meu profundo remorso.” Cinco anos depois, no discurso do 10º aniversário do genocídio, Annan admitia que se a ONU, vários governos e os meios de comunicação tivessem prestado mais atenção ao Ruanda, os massacres poderiam ter sido evitados. “Essa memória dolorosa, junto com a da Bósnia e Herzegovina, influenciou muito do meu pensamento e de muitas de minhas ações como secretário-geral”.

Na altura, dizia-se que Annan não lutou para classificar como genocídio o que se passava no Ruanda para evitar uma intervenção militar. Foi acusado de ter colocado os seus interesses pessoais, como atingir a liderança da organização, em vez de enfrentar os EUA e os países mais poderosos, os principais financiadores da ONU.

No entanto, anos depois, já como líder da organização opôs-se à intervenção dos EUA no Iraque.

Antes da sua morte, cumpria funções de enviado especial da ONU na Síria, trabalhando para encontrar uma solução pacífica para a guerra naquele país. E liderava o ‘The Elders’, um grupo de líderes mundiais que trabalham em prol dos direitos humanos desde 2007. Em 2013 tornou-se o líder dessa mesma organização.

Estava hospitalizado em Berna, na Suíça, na companhia da mulher e dos três filhos.