E diz que "tudo foi feito no interesse público"

JES confirma ter dado orientações para transferência de 500 milhões

O ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, confirmou esta terça-feira que deu orientações ao antigo governador do Banco Nacional de Angola (BNA) relativamente a uma transferência de 500 milhões de dólares, garantindo que tudo foi feito no interesse público.

JES confirma ter dado orientações para transferência de 500 milhões
D.R.

José Eduardo dos Santos confirma ter dado orientações a Valter Filipe e ao ex-ministro das Finanças, Archer Mangueira, para realizarem as acções necessárias para conseguir a captação dos 30 mil milhões de dólares disponíveis no fundo.

A confirmação do ex-Presidente foi dada através de uma carta através da qual José Eduardo dos Santos respondeu ao Tribunal Supremo onde decorre o julgamento do chamado 'caso 500 milhões'.

O Ministério Público suscitou, no entanto, dúvidas sobre a autenticidade do documento, levando o tribunal a interromper o julgamento por uma hora.

A solicitação para ouvir José Eduardo dos Santos foi pedida pela defesa do arguido Valter Filipe, ex-governador do BNA, que está a ser julgado com os co-arguidos José Filomeno dos Santos, o empresário Jorge Sebastião e o director do departamento de gestão de reservas do BNA, António Samalia Bule Manuel.

Na base deste caso, está a suposta transferência indevida de 500 milhões de dólares para um banco no exterior do país, resultante de uma proposta para a criação de um fundo estratégico de investimento para o país, que captaria 30 mil milhões de dólares, para a promoção de projectos estruturantes.

Na carta, datada de 06 de Fevereiro, e esta terça-feira lida no Tribunal Supremo, em Luanda, José Eduardo dos Santos confirma ter dado orientações a Valter Filipe e ao ex-ministro das Finanças, Archer Mangueira, para realizarem as acções necessárias para conseguir a captação dos 30 mil milhões de dólares disponíveis no fundo.

Indiciou ainda que estas acções serviriam para obter um financiamento que iria contribuir para a saída da crise económica e para a promoção do desenvolvimento económico e social e para o progresso do país.

Segundo escreveu, as suas orientações serviriam para o cumprimento destes desígnios, "tendo em atenção o interesse publico".

Embora se tratasse de "uma operação ultra secreta", José Eduardo dos Santos disse que este processo para a captação de investimento foi dado a conhecer ao seu sucessor, João Lourenço, e que orientou o ex-governador do BNA para entregar o dossier ao actual ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico, Manuel Nunes Júnior.

"Nada foi feito de forma a ocultar ou às escondidas como agora se pretende fazer crer", reforçou o antigo chefe de Estado.

Sobre se Valter Filipe excedeu o seu mandato, José Eduardo dos Santos afirmou que o arguido participou na operação como governador do BNA, a quem incumbiu na fase inicial que assinasse os contratos com os promotores.

Esclareceu ainda que foi por sua decisão que todo o processo passou a ser coordenado por Válter Filipe e que afastou Archer Mangueira, por razões de agenda e por considerar que seria melhor que o sindicato de bancos encarregado da operação se relacionasse directamente com o banco central.

"Nada foi feito de forma a ocultar ou às escondidas como agora se pretende fazer crer."

Declarou também ter autorizado Valter Filipe a assinar um acordo com as empresas envolvidas na operação, depois de receber a informação por escrito sob a forma de um memorando em que solicitava autorização para assim proceder, dada a urgência e a distância, já que o governador e os promotores se encontravam em Londres e ele [PR] em Luanda.

Autorizou igualmente a transferência dos 500 milhões de dólares que disse serem apenas "uma garantia".

Tendo em conta que se tratava de uma garantia, o contrato estava feito de forma a que ninguém pudesse usar o dinheiro em proveito próprio e não havia possibilidade de alguém se apoderar dos valores, garante, na mesma carta, José Eduardo dos Santos.

O Ministério Público (MP) entregou, entretanto, um requerimento questionando a autenticidade do documento, que tem três ou quatro páginas, estando apenas assinada a última, e é uma copia digitalizada da carta.

As dúvidas do MP prendem-se também com o facto de a assinatura não ter sido reconhecida pelo notário, nem o documento ter passado pelo consulado.

O tribunal suspendeu a sessão por uma hora para responder ao requerimento.

A defesa dos arguidos diz que esta posição, que considera "uma manobra dilatória" demonstra "desespero" e referiu que se MP levanta suspeições sobre o documento deve prová-las.

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