Ministério da Saúde instaura inquérito e promete apoiar

Criança infectada no hospital

Uma criança, de sete anos, foi infectada com o vírus do VIH/sida após uma transfusão no hospital ‘Maria Pia’, em Luanda. O Ministério da Saúde abriu um inquérito. Uma fonte do INS conta que situações do género têm sido frequentes, mas “abafadas”. Dados do próprio Instituto mostram que, anualmente, cerca de 50 por cento do sangue doado é desaproveitado, por, na sua maioria, estar contaminada com hepatite B.

Criança infectada no hospital

Em Angola, dados do INS mostram que, anualmente, cerca de 50 por cento do sangue recolhido é desaproveitado na sua maioria por contaminação com hepatite B.

Uma criança, de sete anos, foi infectada com vírus do VIH após uma transfusão de sangue no hospital ‘Maria Pia’, em Luanda. A criança, identificada apenas por Emília, deu entrada naquela unidade hospitalar a 10 de Outubro, com dores de dente, inflamação na bochecha e feridas na boca. Dois depois e após exames médicos, concluiu-se que se tratava de uma anemia e que era urgente a transfusão. No mesmo dia, o pai fez a doação. Mas, para o seu espanto, apenas a 17 de Outubro é que a transfusão foi feita e já com sangue de outra pessoa desconhecida. O sangue usado veio do Instituto Nacional de Sangue (INS). Um dia depois, a família foi chamada pela direcção do hospital e informada que o sangue estava contaminado com HIV. “Os médicos disseram que foi um acidente. E que não era necessário falar com a família e que seria resolvido com uma conversa”, lembra o pai em entrevista a uma rádio, que, inclusive, após uma reunião com a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, e a direcção do hospital foi pedido que se abafasse o caso. “É muito pecado que fizeram com a minha filha”, lamenta o pai, que acusa a ministra da Saúde e outras entidades de tentarem abafar o caso.

Numa nota do Ministério da Saúde enviada à imprensa, Sílvia Lutucuta comunica que, na sequência do sucedido, foi instaurada uma comissão de inquérito para averiguar o sucedido. E promete que, caso necessário, vai recorrer a uma abordagem diferenciada no exterior. Actualmente, a menina encontra-se internada no hospital Pediátrico de Luanda para o tratamento de profilaxia após suposta exposição ao vírus. Contactada pelo NG, a directora-geral adjunta do INS, Eunice Manico, negou-se a prestar declarações, assegurando ter recebido ordens e que só o Ministério está autorizado a pronunciar-se.

Em Angola, dados do INS mostram que, anualmente, cerca de 50 por cento do sangue recolhido é desaproveitado na sua maioria por contaminação com hepatite B.

Uma fonte do NG assegura ter havido “negligência” quer da parte do INS, quer do hospital ‘Maria Pia’. “Todo o sangue de qualquer unidade sanitária de Luanda é testado no INS e o protocolo exige que, quando sai, obrigatoriamente tem de voltar a ser testado”, afirma, explicando que, nesse dia, não foi esse procedimento normal. A fonte até vai mais longe. “Parece que o sangue nem sequer foi testado. No protocolo, saiu como negativo”, afirma, ao acrescentar que, logo após a primeira confirmação, o sangue foi enviado para aquela unidade hospitalar. O hospital, por sua vez, confiando nos resultados do INS, não voltou a testar, limitou-se apenas a transfundi-lo ao paciente.

O erro e a confirmação de que o sangue estava contaminado chegaram horas depois de o INS ter detectado uma amostra contaminada. Mas já era tarde. O sangue já corria nas veias da pequena Emília e mais nada havia a fazer. Após a descoberta do sucedido, a inspecção-geral da Saúde foi até ao INS e suspendeu os técnicos de laboratório em serviço. “A inspecção esteve cá, mas fez vistas grossas, deveriam demitir toda a direcção. A directora técnica é quem tem de averiguar tudo passo-a-passo”, conta a fonte do NG.

O INS ligou à direcção do hospital que, por sua vez, se demarca de qualquer responsabilidade, atirando-a para o instituto como responsável pela “confusão”, afirmando ser “incumbência” do INS fazer a testagem do sangue.

O NG sabe que, no INS, têm ocorrido situações do género ,em que pessoas são infectadas não só com VIH, mas com outros patologias. Há uns tempos, o jornal revelou a história de Cesaltina Manuela, uma mãe que viu o filho tornar-se seropositivo após uma transfusão. O rapaz, de quatro anos, tinha anemia falciforme e constantemente precisava de sangue. A criança sofreu mais de 12 transfusões, chegando inclusive a contrair o vírus do VIH numa delas. Mas a mãe só não levou o problema mais adiante por não ter certeza onde o seu filho poderia ter contraído a doença, tendo em conta que as transfusões foram feitas na Clínica Endiama e no ‘Maria Pia’.

Por sua vez, o secretário-geral da Rede Angolana das Organizações e Serviços da Sida (ANASO), António Coelho, garante que a situação é recorrente e por isso é que a organização tem vindo a denunciar a má qualidade dos serviços de saúde. “Entendemos que uma das razões que têm vindo a comprometer os esforços na aceleração das acções de prevenção contra a sida estão relacionadas com essas pequenas situações”, lamenta. Num comunicado, a ANASO espera que, após a conclusão do inquérito, as autoridades adoptem medidas necessárias para oferecer serviços de qualidade e, desta forma, evitar que situações do género voltem a acontecer. E que se apliquem as devidas medidas aos responsáveis.

A ANASO defende que seja dada uma indemnização à família da criança afectada.

 

 

 

 

 

 

 

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