Projecto de apoio a quem sofre de cancro

‘Bola de neve’ à procura de casa

Existe desde 2005 no apoio a quem tem cancro, em especial, crianças. O projecto ‘Bola de Neve’ continua a lutar com dificuldades, sobretudo para alojar doentes em tratamento.

‘Bola de neve’ à procura de casa
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Funciona por voluntariado, em três categorias.
Ilda Sebastião

Ilda Sebastiãopsicóloga

80 por cento dos tumores pediátricos são curáveis, o que quer dizer que há uma grande possibilidade de cura.

O Projecto ‘Bola de Neve’ (PBN), que visa apoiar, de forma psico-emocional, social e financeira, crianças e adolescentes com diagnóstico de cancro e famílias/cuidadores, existe desde 2005, por iniciativa de um grupo de profissionais da saúde e particulares ligados ao Instituto Nacional de Oncologia.

O projecto está integrado na Liga Angolana Contra o Cancro  (LACC), que surgiu por iniciativa da médica cubana Ana de La Torres. Tem como desafios adicionais a sensibilização do poder político para a promulgação de instrumentos que garantam maior apoio institucional à criança e adolescente com cancro como, por exemplo, a redução de tempo de espera no acesso aos serviços de saúde; apoio psico-emocinal, atribuição de cestas básicas, orientação jurídica e financeira; apoio educacional e lúdico durante e após internamento; construção e apetrecho de casas de apoio; aquisição e manutenção de uma viatura para apoiar pessoas diagnosticadas de cancro.

Funciona por voluntariado, em três categorias, efectivos, honorários e beneméritos, cujos membros estão obrigados a pagar uma quota. De acordo com os objectivos, os membros têm direito a formações periódicas (prevenção primária), dentro de programas e calendários previamente divulgados. Têm ainda direito a orientações sobre rastreio (prevenção secundária) e outros acompanhamentos no caso de doença (prevenção terciária) e não pagam pelas consultas.

Ilda Sebastião, psicóloga do Instituto Nacional de Oncologia, lamenta que as pessoas “não tenham conhecimento” sobre o cancro, porque aparecem no hospital com guias médicas para consultas como se de paludismo se tratasse. A preocupação maior é com as crianças. “80 por cento dos tumores pediátricos são curáveis, o que quer dizer que há uma grande possibilidade de cura, nos cancros de infância quando são diagnosticados cedo”, alerta a médica. Daí ter nascido o projecto da ‘Bola de Neve’.

Fazer parte do projecto

Pode ser padrinho ou sócio, qualquer pessoa, nacional ou estrangeira, paga mil kwanzas de inscrição e cinco mil de quota anual. Os membros com alguma patologia oncológica estão isentos de pagamento das consultas.

Após a primeira festa de natal que o grupo realizou, em Dezembro de 2005, onde surge o nome Bola de Neve, houve necessidade de alargar o projecto com o aluguer de casas. Os primeiros alojamentos ficavam no antigo mercado do Roque Santeiro e no Cassequel, em Luanda.

O alargamento do hospital foi possível com ajuda de madrinhas e de apoios como o da BP, Sonangol e Fundo Lwini, em que construíram dois edifícios. Há uma área onde funciona a quimioterapia para adultos e uma sala para consultas e quimioterapia para crianças.

Todas as segundas-feiras, a Refriango apoia com merendas, frutas e sumos e outras madrinhas levam sopa nos finais de semana.

O projecto tem três objectivos: alojamento das famílias e doação de uma cesta básica mensal; a construção de uma casa de apoio para os pacientes com cancro; e aquisição de transporte para ajudar os doentes de casa para o hospital.

Os planos não foram todos concretizados, de acordo com a psicóloga Ilda Sebastião, mas houve um bom avanço, garante, que até ao momento continuam a alugar casas para famílias que apresentam necessidades especiais. “Queremos uma casa de apoio para crianças e adolescentes com cancro, porque enquanto não tivermos casas vamos ter sempre esse problema, de famílias que passam noites na rua. Também vêm mulheres gravidas com filhos doentes e, quando está a aproximar-se a época de ter o bebé, por questões de cultura, muitas não aceitam dar a luz em Luanda, e abandonam os tratamentos dos filhos.”

Casas de apoio

As casas funcionam como aparthotel, com suites compostas por beliches. O grupo dos motoqueiros da picada ‘Os Sobas’, além de sangue, entregam com regularidade outros bens. As ajudas às famílias não ficam pelo tempo em que o paciente fica no hospital. Já houve casos de famílias fora de Luanda que chegaram a perder os parentes e solicitaram ajuda para realizar o funeral e madrinhas doaram caixões, os casos aconteceram em Malange e Benguela.

 

Um exemplo

Esperança Kanda, mãe de Marcelina, de um ano e cinco meses, foi uma das beneficiarias do projecto. Recebeu ajudas para um exame, de 45 mil kwanzas, no caso especifica uma ecografia cardíaca que tinha de ser feita na clinica Girassol. As madrinhas juntaram os valores, mas, estando lá, apareceu outra senhora que custeou os exames e o dinheiro arrecadado foi direccionado para os táxis e alimentação das duas, pois vinham do Uíge. O tratamento durou cerca de 11 meses, já com a saúde estável, a menina regressa com a mãe de três em três meses para os rastreios.

Contactos:

933-733-613; 990-733-613

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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