No Memorial Dr. António Agostinho Neto

Bebida provoca exoneração

Publicidade de uma marca de cerveja levou à exoneração de Jomo Fortunato. O concerto de Ndaka Yo Wiñi provocou a fúria de João Lourenço. O músico assume-se como único culpado por não ter acatado o regulamento.

Bebida provoca exoneração
Ndaka yo Wiñy

Ndaka yo Wiñymúsico

Estou com sentimento de culpa, nada foi intencional, porque todos nós respeitamos um lugar daqueles, e não foi esse o foco da actividade.

A publicidade e a presença de uma marca de cerveja, num concerto do músico angolano Ndaka Yo Wiñi terá precipitado a queda de Jomo Fortunato como presidente do Conselho de Administração do Memorial Dr. António Agostinho Neto. O Presidente da República não gostou de saber do uso que se estava a dar ao espaço e exonerou Jomo Fortunato, substituindo-o por António Antunes Fonseca, escritor e ensaísta.

De acordo com o comunicado que justifica a medida, a exoneração foi provocada devido à “verificação de condutas inapropriadas durante a realização de actividades culturais no interior” da instituição. João Lourenço entende que essas iniciativas não dignificam o espaço que homenageia a figura do primeiro Presidente da República, Agostinho Neto.

A ‘gota de água’ foi o concerto de Ndaka Yo Wiñi, que serviu para o lançamento de um CD e que teve como um dos patrocinadores a marca de cerveja ‘Luandina’.

Hoje, o músico até se sente culpado pela exoneração de Jomo Fortunato, reconhecendo que o ex-PCA teve o cuidado de avisar os organizadores do espectáculo que o Memorial se rege por um regulamento. E nele está bem esclarecido que é proibido o uso de bebidas alcoólicas no recinto. Em declarações ao NG, Ndaka Yo Wiñi admite que a patrocinadora esteve no local e que houve consumo de bebidas, mas apenas no final do concerto e sem o consentimento do PCA. “Ninguém afirma que se tenha feito uso de bebidas como tal. Assim sendo, é uma marca que está ligada à bebida e é incomodativa de alguma forma. Apenas encontrámos algumas latas fora, que a equipa de produção recolheu antes de deixar a casa.”

Ndaka Yo Wiñi revela que a organização, que tinha como como parceira a marca de bebidas, já tinha montado o equipamento, para efeito de exposição, quando se apercebeu de que essas eram as regras. Segundo o músico, quando a organização reparou nas bebidas, cobriu-se as caixas térmicas “para que ninguém mexesse, na perspectiva de esperar o transporte”, pois “as bebidas eram para efeito de brindes”, justifica-se.

O músico reconhece que houve alguma “falta de atenção”, mas garante que, durante o espectáculo, “ninguém consumiu”.

O músico reconhece ainda que “não ajudamos o Jomo, poderíamos pensar de uma forma madura de como funciona o regulamento da casa”. “Afinal de contas é proibida a presença de qualquer coisa que esteja ligada ao álcool”, admite.

Ndaka Yo Wiñi acredita que, pela forma como foi constituída a informação, dá a entender que “a questão não é só essa”, para a exoneração. Entristecido com a situação, apenas lamenta o sucedido, “por acaso não sei o que dizer, mas estou com sentimento de culpa, nada foi intencional, porque todos nós respeitamos um lugar daqueles, e não foi esse o foco da actividade.”

Jomo Fortunato, um académico e crítico musical e literário, foi nomeado PCA do Memorial em Fevereiro de 2017, pelo então chefe de Estado, José Eduardo dos Santos.