Promodes faliu com dívidas de mais de 200 milhões de kwanzas

ADRA 'amarrada' a ajudas externas

Relatório de 2018 destapa ‘atropelos’ da gestão que resultaram em dívidas a terceiros estimadas em mais de 200 milhões de kwanzas

ADRA
Santos Sumuesseca
director-geral da Adra

O exercício da Adra (Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente) para contornar o fraco apoio interno e a consequente dependência externa resultou em fracasso por causa da má gestão da Promodes, empresa que tinha sido criada para comercialização de fertilizantes bonificados.

Segundo o relatório, a dependência de financiamentos externos e a constante flutuação do kwanza levaram a Adra a criar iniciativas possíveis geradoras de rendimento, tendo resultado na criação da Promodes, “um órgão executivo de suporte à sustentabilidade da organização”, que devia contribuir “para o auto-financiamento de projectos e da ampliação e alargamento de um sector privado com ética e paradigma de desenvolvimento sustentável”.

A entidade resumia-se à comercialização, permitindo a cedência a crédito de 'inputs' agrícolas, com incidência nos adubos, "a preços acessíveis ao camponês". No entanto, em 2017, a associação viu-se forçada a criar uma comissão para o saneamento da empresa por suposta má gestão. 

A comissão trabalhou até ao ano passado, tendo sido apuradas dívidas com terceiros de mais de 136 milhões de kwanzas. Além desse valor, a transitária ND reclama um montante de 100 milhões de kwanzas, mas “não há documentos de suporte” para provar esse valor, segundo o relatório da sociedade. Ainda de acordo com o balanço, foram encontradas dívidas de terceiros para com a empresa de mais de 36 milhões de kwanzas.

A Promodes está paralisada, mas a Adra continua a suportar salários de 10 funcionários, até à sua liquidação, “depois de cumpridos os procedimentos relacionados com as obrigações fiscais e a publicação da deliberação de dissolução em Diário da República”.

O relatório salienta o facto desta organização não-governamental angolana continuar largamente dependente de financiamentos externos, um problema que impede a expansão da actividade.

 

81% do financiamento garantido

No ano passado, 13 projectos submetidos a financiamento, 10 receberam mais de quatro milhões de dólares, dos quais 81% foram captados de doadores internacionais, 3% de nacionais e 16% internos, ou seja, resultantes da quotização dos membros.

As receitas da ADRA provêem de contribuições da União Europeia, no topo, com 21%, seguindo-lhe o Afrikagrupperna (19%), grupo sueco que apoia vários programas de desenvolvimento em África. Ao nível local, os 3% são do Fundo de Apoio Social (FAS) que, “gerindo dinheiro do Banco Mundial, financiou o projecto ‘Aldeias sustentáveis’”, mas “uma parceria que não tem sido bem-sucedida”, segundo o balanço. Mas a esse respeito, o director-geral da Adra, Belarmino Jelembi, tranquiliza, observando que “se trata de um assunto já rectificado”.  

As ‘receitas internas’ decorrem dos projectos da organização e da quotização dos membros, que não ultrapassa 0,70% dos orçamentos, ou ainda, do arrendamento de imóveis e do abate de viaturas.

 

 

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