Eu não aquerdito!

Professor Ferrão

A primeira vez que ouvi não dei importância. Preferi pensar que tinha cera nos ouvidos e, por isso, estavam eles – os meus ouvidos – a enganar-me.

A primeira vez que ouvi não dei importância. Preferi pensar que tinha cera nos ouvidos e, por isso, estavam eles – os meus ouvidos – a enganar-me.

Aos domingos, como tem sido de costume, sento-me com a Nené ao colo e conversamos sobre o que ela e eu fizemos na escola e no trabalho. Mas tudo com muito jeitinho e troca de beijinhos e carinho para ver quem cede o comando (controlo remoto) da televisão.

No tempo do Bumbo, da Rua Sésamo e do Delphi e Capitão Vinagre, não havia esses problemas. Às 17 horas, instantes após a abertura da emissão da TPA, a opção era: ou se vê o Bumbo, ou se vê o… Bumbo. Nada de Princesa Sofia, Ovelha Choné, ou o Comboio dos Dinossauros, à mesma hora dos grandes clássicos ou do telejornal a preto e branco.

Mas não era problema dos meus ouvidos o que ouvira na manhã daquele sábado, que não era azul como o programa juvenil de uma das emissoras de rádio.  É interessante. Abordam temas pertinentes e muito curiosos que deixam, muitas vezes, boquiabertos os radialistas.

“(…) É verdade isso que me está a dizer?”, pergunta um dos apresentadores.

“É, sim”, responde o ouvinte. 

“Eu não aquerdito”, insiste o radialista.

Eu, que acompanhava o programa, também não ‘aquerditei’, embora não tivesse sido a primeira vez a ouvir a mesma história. De onde terá saído essa nova e incorrecta forma de pronunciar este verbo regular da primeira conjugação – os que terminam em AR?

Não se pode sair para aí a ‘aquerditar’ em tudo o que nos é dito, sobretudo que se está num programa com audiência invejável como é aquele, completamente azulado pelos jovens.

Para alguns casos, só para minimizar, convém aferir, consultar um professor ou um dicionário. Nestes, podemos, sem medo de errar, ‘acreditar’. E eu acredito que muitos também acreditam que a forma correcta deve ser aquela acreditada (=reconhecida) pelos manuais de referência.