A Polícia deteu alguns manifestantes

Professor Ferrão

Eu estive lá até às 14 horas e não vi nada de estranho. Havia vários grupos de professores. Quase todos foram mobilizados para participar na marcha em protesto ao aumento do valor do passaporte.

Lembro-me de ter falado com alguns mais velhos. Falaram-me das suas experiências, dos seus sonhos frustrados e, mesmo assim, das suas expectativas. 

A avenida ‘Deolinda Rodrigues’ era uma alameda, em que as árvores estavam vestidas de várias cores e cheios de ânimos diferentes. Todos juntos para um “melhor ambiente social”, diziam.

E o sol parecia ter conquistado um espaço mais para baixo. O largo 1.º de Maio estava quente e molhado com o suor no rosto das pessoas. Num espaço calmo e sem grandes multidões, alguém, um cantor, vendia e autografava o seu mais recente disco. Parecia um feriado antecipado… até eu ligar a rádio e ouvir de um jovem que “os polícias deteram algumas pessoas”.

Não podia ser verdade. É verdade que havia polícias a escoltar o pessoal da marcha. Aquele era o lugar mais seguro do mundo. Não tinha como alguém ousar fazer outra coisa senão apoiar ou observar. 

Mas o jovem teimava. “Eu estou aqui no Largo e há gente que a polícia deteu”, insistia o ouvinte de cuja voz grave, rouca e trémula – que eu acredito que era devido aos gritos – se podia perceber alguma angústia.

Mais tarde, soube de algumas pessoas que a polícia não ‘deteve’ (não tinha detido) ninguém. “Os polícias não detiveram ninguém”, confirmou um manifestante, clarificando que o que de facto aconteceu foi a dispersão de alguns jovens que tentavam fazer “arruaça”. 

E concluí que houve confusão. Muita gente faz confusão com ‘deter’ e seus semelhantes e, por isso, são, muitas vezes, ‘marginalizados’.  

‘Deter’ (conter, manter, reter, obter, etc.) é da mesma família de ‘ter’. A sua conjugação processa-se da mesma forma, salvo nas segunda e terceira pessoas do singular, no presente do indicativo, em que se coloca o acento gráfico (acento agudo), por serem palavras oxítonas terminadas em ‘-ens’ e ‘-em’.

Devemos, portanto, dizer, caso tivesse havido detenções que a polícia ‘deteve…’ ou os polícias ‘detiveram…’

 

Se a polícia algum dia detiver alguém, trate de passar correctamente a informação.