Teste de algodão

O MPLA começa a enfrentar o maior desafio da sua história recente. Desta vez, não conta com a segurança das armas para se sair vitorioso o que, por si só, aumenta o risco. Depois de tanta resistência, vai mesmo encarar a criação de autarquias e as consequentes eleições autárquicas. E estas últimas constituem o grande teste para se saber o verdadeiro peso do MPLA na sociedade.

Esta semana, o partido deu o grande passo para enfrentar o que tanto temia: as eleições. Com a preparação do congresso extraordinário, começa a definir regras a que ele próprio não está habituado. Primeiro, com eleições internas que devem escolher os dirigentes nacionais e locais e, entre eles, os futuros autarcas. Eis um dos maiores riscos de superação de um partido que se destacou por guerras internas, desde a sua fundação até à consolidação de José Eduardo dos Santos na liderança. Nos últimos tempos, voltaram as divisões que poderão tornar-se mais visíveis, mas num campo chamado democrático.

As alterações levam à inevitável mudança de estatutos. O MPLA deverá querer acautelar as bicefalias. Não arriscando a que um presidente de câmara não seja um dirigente. Se, na teoria, até poderia ser saudável, permitindo, por exemplo, a presidência de independentes, a prática e a cultura do partido aconselham o contrário. Evitar mais ‘guerras’ internas também é saudável.

E, finalmente, a definição de quem pode ser dirigente e autarca. A vice-presidente do partido, Luísa Damião, traçou uma linha ‘vermelha’: tem de ter uma “ficha criminal limpa”. A ênfase deve ser dada na palavra ‘criminal’ o que permite haver mais pretendentes. Se for apenas em ‘ficha limpa’, arrisca-se a ter poucos candidatos.

Os exemplos dos resultados desastrosos, em eleições autárquicas, da Frelimo, em Moçambique, e do ANC, na África do Sul, são os maiores alertas para o MPLA que, precisamente por causa disso, adiou a criação das autarquias até onde pôde. Antes irmãos ideológicos e parceiros no poder central, aqueles dois partidos têm sido fustigados nas eleições locais, sobretudo em zonas onde até tinham uma forte influência. O MPLA sabe disso. E sabe que esse vai ser o teste do algodão às suas políticas centrais.

 

 

 

 

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