Sonhos de verão

À hora que escrevo este artigo, a administração da Ende ainda não tinha sido demitida. Ainda. Mas corre sérios riscos de o ser. É só a que falta na lista de varridelas de João Lourenço e o Presidente deve estar com ‘sede’ de o fazer depois de, em Malanje, ter assistido, ‘in loco’, à falta de energia durante a sua visita. Por cada exoneração, há sempre coincidências estranhas.

A administração da Epal caiu precisamente dias depois de os condomínios mais abastados da capital assistirem à circulação de camiões-cisterna. Um movimento inusitado a indicar falta de água corrente. Antes disso, durante meses, chovia queixas de moradores dos bairros mais pobres e das centralidades de que a água chegava escura, com cor castanha e com cheiros desagradáveis. Mas a administração da Epal resistiu. São problemas distantes, deverá ter pensado a governação.

Falta energia em Malanje, a província que ‘só’ exibe as fabulosas Quedas de Kalandula e o fantástico Pungo Andongo, a única maravilha angolana que pode ser vista do espaço. Falta água (ou aparece castanha) na capital que concentra elevado número de hotéis e que acolhe, por estes dias, o Fórum Mundial de Turismo.

Imagine-se portanto o belo cartão-de-visita que João Lourenço, na sua luta por captar investimentos estrangeiros, vai mostrar a investidores de grande vulto, habituados a montar hotéis e ‘resorts’ em sítios paradisíacos, mas onde não falta nem energia e nem a água jorra castanha nas piscinas, ‘spas’ e jacúzis.

O esforço do Governo, de apostar forte no turismo, é louvável e merece aplausos. Mas tímidos. Não se pode querer seduzir grandes empresários, mostrando apenas belezas naturais.E essas, belíssimas que são, dispensam apresentações.

Alguns dos participantes no Fórum terão oportunidade de dar umas voltas pela província de Luanda e têm uma visita prevista a Malanje. Vão ver as estradas esburacadas, em mau estado, gente a deambular à beira do asfalto, condutores a arriscar a vida em vias estreitas, ‘resorts’ abandonados, prédios a cair e praias sujas. Com um pouco de sorte, escapam a ter qualquer acidente que os desvie de ir parar a um hospital (se houver uma ambulância disponível).

Para que haja investimento no turismo, não bastam boas intenções e facilitação de vistos.São precisas infra-estruturas.E essas, por cá, são sonhos em noites de verão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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