PEP: de lá e de cá

PEP: de lá e de cá

O dicionário apresenta o acrónimo como sendo Pessoa Exposta Politicamente, profilaxia pós-exposição e outros conceitos. É também a marca de uma cadeia de lojas, essencialmente, de vestuário para crianças, senhoras e homens (em pequena escala). A boa criatividade angolense atesta que PEP é preço/produto especial para pobres. E não é mesmo? Ao olho, pode parecer haver alguma qualidade naqueles produtos a preço de banana (inferida através da relação entre a necessidade e a satisfação dessa) mas, no fundo, é só para o roto se vestir ou o ‘faminto matar a fome’. O pobre fica satisfeito, entretanto, quem pode dar mais por algo diferente, com maior visibilidade, durabilidade e utilidade opta por uma loja ‘no pep’. Essa é uma estória. A outra é que muitas senhoras e senhores que na banda evitam passar, sequer, ao lado de uma porta da pep, como se perto dela se possa  contrair alguma doença patogénica, são os primeiros a adentrarem as PEP de outros países. O argumento, segundo ouvi de umas mwangolês, falantes dum Português  “aprendido a cabeçadas” e que me confundiam com dâmara, é de que “embora lá na ngumbi não entre em nenhuma pep, aqui que ninguém conhecido me está a ver, vou só comparar umas coisitas para misturar com outras de marca e oferecer a uns sobrinhos e afilhados”.

Mas, vocês afinal são assim? Não sabem que os produtos vendidos em lojas pep são os mesmos e que só enfeitam em mãos de comprador(a) pobre e que só embelezam o corpo de utilizador igualmente pobre? Até quando vão conservar essa mentalidade pobre de não entrar, na banda, em uma loja pep, mas carregar todas as bujingangas que vos apareçam pela frente numa pep de Windhoek ou Joanesburgo?

Se és pobre, seja onde for, assuma-te como ‘pep user’ e nada de grandezas de papel onde até o cérebro é minúsculo. Pior é que mesmo a fingir tanto, na hora de efectuar o pagamento, acabam por solicitar um intérprete para o “she wants to know if can get a special price”. E quem é o interpret? Eu, mwangolê que se ouve e reporta cronicando.

Para quê só, minha conterra?!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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