O que falta perguntar

Num gesto de ‘charme’ aos portugueses, o Presidente da República concedeu uma entrevista ao semanário mais importante de Portugal, o ‘Expresso’. As respostas ainda ecoam pelas redes sociais e pelos comentários na comunicação social. Voltam a abanar a nossa surpreendentemente vida política. 

Mas tão importante como as respostas são as perguntas. As que ficaram por fazer. Toda a gente sabe que o Presidente elegeu o combate à corrupção como a sua bandeira. Mas ninguém ainda perguntou quando precisamente João Lourenço se apercebeu que havia gente a enriquecer ilicitamente. Teria detectado essas falhas quando foi secretário-geral do MPLA? Se sim, conversou com os seus camaradas? Tentou travar essa corrupção? Ou detectou-a apenas quando foi ministro da Defesa? Se sim, agiu? Ou reparou nisso quando foi deputado? Fez alguma intervenção na Assembleia Nacional a condenar essa corrupção? Ou teria descoberto quando ouviu os discursos de José Eduardo dos Santos, o primeiro dos quais em 1980, a nomear a corrupção como o segundo mal que nos afligia depois da guerra? Se sim, tentou travá-la? E como?

João Lourenço faz referência a pessoas que traíram a pátria. Mas não os identifica e está no seu direito de reserva. Mas era bom saber quando ele descobriu essas traições e os traidores. Se sim, tentou travá-los? Deu-lhes conselhos? Não o poderia fazer enquanto dirigente com elevadas responsabilidades no MPLA? É bom lembrar que João Lourenço tem responsabilidades políticas desde 1983. Há, portanto, 35 anos. 

Na defesa da ‘Operação Resgate’, ficou por saber se João Lourenço mandou acautelar a possibilidade de tirar qualquer rendimento a milhares de zungueiros. Seria interessante perguntar ao Presidente da República se mantém a promessa, feita na campanha eleitoral, de criar 500 mil empregos. Ou, pelo menos, que dissesse quantos criou neste primeiro ano de mandato.

Este espaço é pequeno demais para caberem todas as inquietações e todas as perguntas que várias intervenções de João Lourenço inspiram. No sábado, de novo no estrangeiro, o Presidente da República promete responder a todas as questões numa mega-conferência. Esperemos que haja espaço para se fazer algumas destas perguntas.

 

 

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