O caso da viúva (III)

No dia do funeral, Filomena Mambumonso chorou escandalosamente o marido, wawé, meu amoré, quem vai me fazer cócegas à noite,também quero morrer, me largam, me largam, quero seguir o meu esposo. Alguns vizinhos ainda lhe tentaram sossegar, mana Filó, calma, esse choro pode fazer mal ao bebé, fica calma, faxavor, mas a viúva intensificou o xinguilamento, bungulando violentamente, o que levou toda a gente a acreditar que a senhora não estava ligada ao acidente de viação que vitimou o marido.

Mas nós não somos toda a gente: sabemos que foi a própria Filomena Mambumonso quem, estando grávida do motorista e receando que o marido fosse duvidar da paternidade do herdeiro, convenceu o empregado do esposo a estacionar a viatura num local estratégico, simulando que ia comprar qualquer coisa, para que um camião viesse embater no turismo, provocando a morte do coitado do advogado, que faceboocava avontademente no banco de trás.

Por isso, para nós, mesmo tendo já se passado 10 meses desde o funeral, teremos sempre um pingozito de curiosidade, ao ver o antigo motorista do falecido bater à porta da viúva, carregando consigo um quibuto de papelada. A nossa curiosidade poderá dar lugar ao espanto, quando descobrirmos que o motorista visita a casa de Filomena Mambumonso para lhe fazer exigências chantagistas, obrigando a pobre viúva a entregar-lhe metade da herança, para ele não revelar as verdadeiras circunstâncias da morte do patrão.

 

Filomena convence o jovem:

– Se me denunciares, tu e eu vamos p’ra cadeia, seu burro!

Mas o rapaz, com uma tranquilidade que perturba a senhora, diz que não se importa de ser preso e que Filomena é quem perderia mais, pois, além de ver o sol nascer quadrado, cometeria o erro de deixar os filhos do primeiro e segundo casamentos à deriva, expondo-os ao risco de serem enviados para um orfanato de se coçar, onde se matabicha arroz branco com chá.

Então, baixando levemente o vestido, Filomena Mambumonso pede para o rapaz ter calma, diz mesmo que sente saudade do tempo em que o jovem lhe dava o que ela nunca encontrava no marido. Depois, no quarto, ouve-se o som que costuma caracterizar a cópula entre casais e é nesse instante, nesse exacto instante, que a viúva, deitada por cima do motorista, ergue uma faca de cozinha e enterra-a no pescoço do rapaz. “Seu sacana!”, diz a senhora, cuspindo no jovem, enquanto procura no telefone o contacto do indivíduo que a ajuda a livrar-se do cadáver.

 

 

 

 

 

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