O canto e a poesia

O canto e a poesia

“O metodismo nasceu a cantar”, atesta Emílio de Carvalho, no seu prefácio ao hinário Povo Catai! da Igreja Metodista Unida em Angola, 1.ª edição, 1982. Concordo com o bispo e acrescento que os metodistas crescem a recitar. Tal exercício de declamar textos bíblicos e artísticos nas “classes e igrejas” acontece desde pequeno e influencia a trajectória dos indivíduos no que concerne ao “encarar a floresta em vez da árvore”, na hora da exposição oral.

De uma turma de LP que ministro num centro de formação, os menos tímidos são aqueles que exercita(ra)m a recitação ou o canto em igrejas, destacando-se os da IMUA.

Lembro-me do dia e mês em que cheguei pela primeira vez a Luanda: 18 de Maio de 1984, fugido de refregas entre militares antagonistas. Meus tios, anfitriões, eram crentes Metodistas, na altura, única em Angola, frequentando, porém, cargos (congregações) diferentes. Ele na Calemba e ela na Moisés, então recém-emancipada da primeira.

Fui, inicialmente, com o tio à Calemba, próximo do ‘cemitério novo’ ou Sant’ana. Este cargo possuía próximo de casa, no Rangel, a classe João Baptista, no México. Era lá que conheci o velho João Kambundu, de feliz memória, sendo guia o velho Pedro, pai de Keth e Gia Mateus Pedro (meus contemporâneos). Encontrei ainda a família Catumbila, sendo meus coetâneos o Toy e o seu ‘puto’ Jojó Catumbila. O Jeremias, a Fátima e o Isaías eram já makwenze.

Tendo chegado a Luanda em Maio, a frequência da classe João Baptista não podia ser ainda vésperas de natal,  altura em que os meninos e meninas da metodista ensaiam nas classes o programa de Natal, com cânticos e poesia que nos levavam a ‘escorregar’ pelo corredor ao púlpito. Era característica marcante, e sempre presente nos templos metodistas, o ensino do canto, da poesia e dos jogos orais, quer fosse ou não época de Natal, Páscoa, EBF ou outra data, como foram os ensaios na Central e Bethel, quando do centenário (1985). Os meninos eram chamados a ‘seguir a Jesus’ como evoca o hino 90 do HPC da IMUA.

Esses ensinamentos transformaram positivamente gerações, incluindo a minha. A escrita, a recitação e a música tornaram-se pontos fortes do ‘povo metodista’, quer continue ou não frequentando os templos.

E, 35 anos depois, ainda ‘oiço’ vozes de meninos como a Gia Pedro, Toy Catumbila (Calemba) ou Xico Kitembo e Lurdes (da Moisés, aonde me transferi meses depois) cantando na Escola Bíblica de Férias, ou nos cultos semanais da classe o ‘vinde meninos, vinde a Jesus..!’

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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