No Vaticano, o amor gritou alto

Os sinos, primeiro, anunciaram bem alto, ritmados, convidativos... Mpã, Mpã, mparãm, mpãm, Mpã, Mpã, Mpã, pã-pã-pã-pã!

Na porta de entrada, um jovem garbosamente vestido e com gestos polidos, a lembrar-me um ‘gentleman’ francês, indicava à rapariga, garbosamente avermelhada no seu vestido longo e justo, os parentes e as correspondentes mesas.

- Esse é o meu tio Phande-a-Umba e vem com a esposa. Leva-os à mesa dos tios.

Antes de a jovem que fazia o protocolo para os ‘Ver’importante parents’ fazer a vénia, confirmei a saudação ao Leo com um aperto de mão e batimentos leves mas rápidos no lado do seu coração.

- Boa noite, Leo. Lussenje, o Leonel é meu primo, filho do finado Gasolina, portanto, irmão do noivo – apresentei. 

- E, por que te chamam tio se são teus primos?

- Eu era amigo do meu tio e, se calhar, tenho autoridade de tio.

O moço que conferia os convites fez o registo e a ‘moça que fazia protocolo’ esticou-se toda numa vénia nunca vista. Acompanhamos e dividimos a mesa com os parentes da noiva, vindos aparentemente do Huambo, a confiar nos discursos e nas localidades que descreviam.

Dudu, o primo Dumilde, barba à Pedalé, kambutice e corpice também. Até nas mawanas, o filho da tia ‘Enfica’ ou Linda João, se parece ao finado ministro da Defesa Pedro Pedalé. Nas nossas festas de família, é o ‘gajo’ que cuida de impor respeito. Aliás, você vê o moço e o respeito te vem já à cabeça, tipo aquela reverência que os kwemba (tropas) e os fugitivos da vida militar faziam ao camarada Pedalé. O gajo é um kambuta que impõe respeito!

Noutro lado, estavam as ‘miúdas’. A Fina e o barão, a Miulk e a kota dela Dilma, a minha prima ‘brasileira’. O Dino também. Discreto, o gajo, a dar uma de kasule da Linda, mas a criar já barba de mais velho que o não deixa discreto entre os imberbes de sua idade. 

Epá, família toda. Alegria toda. Todos aqui reunidos pelo Vá e noiva. O Santo João, da lavra do  comandante Infeliz, apareceu também no seu fato axadrezado. Kambuta bangão, de mawanas também. Meu primo era único. E a autora principal da festa, a mãe do Vá...

- Ó Carlota Toala, estás deslumbrante, minha tia. Obrigado. Muito obrigado pelos rimos que tenho.

Ela, toda encabulada, minha ti’amiga, quase sem voz para as palavras que lhe vinham na mente. Agarrou-me num abraço.

- Sinta-te à vontade, sobrinho. Ainda bem que não viajaste. Deu para estarmos juntos...

Insinuoso, o ‘didjei’ musicava melodias e misturas ‘saborosas’ , ao repasto multigostos. 

- Vinde testemunhar. Vinde deleitar-vos. Vinde imitar (boa imitação faz bem)... Era o falar da aparelhagem sonora, cuspindo ritmos pelo salão. 

Depois, foi a vez de os nubentes fazerem - se à pista. No boda do  Vaticano, foi assim.

Vaticano já é Senhor. Valdane João [Jorge Castro] está casado!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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