Metáfora histórica

Lyndon Johnson chegou à presidência dos Estados Unidos por obra do destino. Com o assassinato de John Fitzgerald Kennedy, o antigo senador do Texas, também do Partido Democrata, ascendeu ao mais alto cargo da Nação. Tinha sido escolhido para vice-presidente, por uma razão táctica: Kennedy, um liberal nos costumes e nas ideias, entendeu que precisava de recolher o apoio dos conservadores e racistas do sul do país. Lyndon Johnson era o ideal: provinciano, autoritário, conservador e bruto no trato. Estava nas antípodas do cosmopolita e telegénico Kennedy que, ainda por cima,  elegeu os direitos civis e a igualdade racial como bandeiras. 

Na hora da escolha, todo o ‘staff’ de Kennedy, incluindo o irmão, Robert Kennedy, esteve contra. Tentaram demover os dois homens, mas sem sucesso. Kennedy por habilidade política, Lyndon Johnson por vaidade. A convivência na Casa Branca não foi fácil. O ‘odiado’ Johnson passou a ter um papel subalterno, longe das grandes decisões. E mantinha-se fiel ao princípio que o levou ao sucesso no Texas e no país: racista, defensor de separação de raças. 

Mas os caminhos da História fintaram-lhe as intenções. Com a morte de Kennedy, o vice-presidente Lyndon Johnson subiu de cargo e transfigurou-se. Primeiro, assumiu que só tinha chegado àquele posto, presidente da nação mais poderosa do mundo, por escolha do seu antecessor. Fiel a princípios éticos, entendeu que, por isso, lhe devia fidelidade. 

Mal chegou à presidência, jurou honrar o nome de John F. Kennedy. Começou por agarrar, com todas as forças, a alteração da lei dos direitos civis, proporcionando igualdade aos afro-americanos. Com isso, enfrentou uma duríssima oposição dos que tinham sido os seus indefectíveis apoiantes. Aos direitos civis, acrescentou-lhe outras propostas de Kennedy: guerra à pobreza, criação de seguro de saúde para os mais desfavorecidos, protecção ambiental e apoio aos ensino para os mais pobres. Só mais tarde, optou pela iniciativa própria, sendo o responsável pelo aumento de tropas no Vietname e pelo liberalismo económico.

Mesmo com tantas divergências - ideológicas, de estilo, de costumes -, Lyndon Johnson recusou-se a ‘matar o pai’. E, sempre que podia, homenageava publicamente o homem que foi assassinado em Dallas, em Novembro de 1963.
 
 
 

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