Kalumbu ao pôr-do-sol

(Tentativa de descrição) 

Kwanza preguiçoso de tanta caminhada, Citembu-Lwanda-Atlântico. Distância já pouca. À beira, riqueza também pouca, apesar de margens largas, humificadas e propícias à agricultura e pecuária. É assim, do Dondo, velha cidade por muitos descrita e de muitos conhecida.

Kalumbu assiste ao pôr-do-sol de um dia de Fevereiro, antecedido por farta chuva. Sobre as águas translúcidas do Kwanza, uma porção, não pequena, de plantas aquáticas (herbáceas) que, quando paradas, escondem peixes e jacarés desliza, flutuante, rio a baixo.

- Quê aquilo?

- É ngandu

- Nûé ngandu. É capim!

- Capim, assim enrolado? Toma cuidado. Às vezes inimigo se esconde no capim para jantar pessoa.

Lá, mais ao fundo, era outro o diálogo. Gentes doutra margem, kis(s)amistas, negócio aviado. Ao fim da tarde é só despacho.

- Canoa te cobra na vinda, pessoa e produtos. Canoa te cobra ‘igualimente’ no regresso, pessoa e sobra de produto, que, às vezes, preço da travessia e ida e volta, duas vezes, é maior do que preço da venda. Despachei só já  ‘numa’ mana que também tinha cara de sofrimento.

Para as vianenses, o dia tinha acabado. 

- É hora de voltar e fazer a janta dos filhos e do pai deles.

Para os da margem kis(s)amista do Kwanza, o coração que é só um pensa na canoa e no preço da travessia, no jacaré que gosta se esconder no erva aquática que flutua sobre a corrente do rio calmo. Pensa ainda, o mesmo coração nos filhos das traquinices, se alguém ‘se aleijou’ e pensa também no marido que pode encontrar já sem camisa, pronto ‘a se ignorar’, depois de avultadas doses de katula mbinza.

Só as manas e mamãs, umas aproveitáveis conselheiras nas igrejas, outras desaproveitáveis e perdidas na cerveja barata, dizia: “só as mamãs e manas de Kalumbu é que não se agitam com o morrer do sol, pois conhecedoras do wenji daquela praça, aproveitam comprar barato das senhoras da Kisama e revender às manas retardatárias de Luanda, hoje à noite, ou amanhã  de manhã, antes de as agricultoras de verdade pousarem os kingombo, idingo, madimá, jimbiji nyi ima yoso!”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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