Prova nacional única em Dezembro, para 6.ª, 9.ª, 12.ª e 13.ª classes

Governo já definiu as regras para os exames nacionais

As regras para os exames nacionais no ensino não-universitário já estão definidas. O Ministério da Educação, que promete para Agosto a divulgação pública de como deve funcionar o processo, desdobra-se agora em reuniões para acertar detalhes, enquanto o NG ‘destapa’ as novidades de uma iniciativa que ainda gera desconfianças.

Governo já definiu as regras para os exames nacionais
Mário Mujetes
Exames vão abranger alunos das classes de fim de ciclo.
Viriato Neto

Viriato NetoDirector nacional para a Avaliação e Acreditação do Med

Não é só o aluno que será avaliado. Vamos avaliar todo o processo, toda a cadeia. Ao fazermos o exame nacional, avaliamos também a escola, a província e a competência dos professores, porque os resultados poderão demonstrar se houve cumprimento do programa. Quer dizer que nós mesmos, Med, vamos auto-avaliar-nos.

O Ministério da Educação (Med) já definiu os moldes de realização dos exames nacionais no ensino não-universitário, que serão aplicados a partir de Dezembro. Na 6.ª e 9.ª classes, será aplicado o ‘exame de certificação’, que vai abranger todas as disciplinas. No ensino médio, onde o teste terá a denominação de ‘exame de aferição’, as provas consistirão na definição de duas ou três disciplinas-chave do curso, sendo que os exames, ao serem aplicados no último ano do ‘médio’, poderão ser realizados na 12.ª ou na 13.ª classe, dependendo se o aluno frequentou o pré-universitário ou o ensino médio técnico-profissional. As provas, que serão elaboradas pelo Med depois de avaliadas as propostas de cada província, serão as mesmíssimas para as mesmas classes e serão feitas à mesma hora por todos os alunos de todo o país.

Os dados foram revelados ao NG pelo director nacional para a Avaliação e Acreditação do Med, que explicou que, neste momento, decorrem as reuniões com os directores de escolas para se decidir, entre outros aspectos, quais as disciplinas a serem avaliadas nas diversas especialidades do ensino médio.

Viriato Neto, que prometeu para Agosto a divulgação pública de todas as regras e procedimentos, descartou, para já, a possibilidade de um aluno que tenha sido óptimo ao longo do ano lectivo reprovar por não obter nota positiva no exame nacional. De acordo com o responsável, daqui a dois ou três anos, poderá definir-se que as notas da avaliação formativa sejam o requisito para o aluno ter acesso ao exame nacional e, daí, em função do seu desempenho, tudo o resto fica para trás, contando apenas como média final o resultado do exame nacional, sendo está média encontrada mediante cálculos a definir.

Por agora, explica Viriato Neto, está determinado que, na 6.ª classe, as contas sejam as seguintes: sendo 10 a nota máxima neste nível, o valor da prova do professor corresponderá a 40 por cento, enquanto o do exame nacional se fixará nos 60 por cento. Estas percentagens serão multiplicadas entre si, seguindo-se uma divisão por 10, sendo a nota final o resultado desta divisão. Já na 9.ª classe e no ensino médio, a classificação da prova será somada à nota do exame nacional, seguindo-se uma divisão por dois para se obter o resultado final. 

CRÍTICAS E SUSPEIÇÕES

Governo já definiu as regras para os exames nacionais

(Guilherme Silva, presidente do Sindicato Nacional dos Professores, Sinprof)

Entretanto, mal foi divulgado o plano governamental de se elaborar, ainda este ano, um exame único no ensino não-universitário, muitos educadores revelaram, ao NG, desconfianças em relação ao sucesso da iniciativa. Por exemplo, o  (Sinprof) considerou necessário “afinar-se bem a máquina” em termos de gestão, visto que o país tem apresentado “muitas dificuldades” no que à estatística diz respeito.

Guilherme Silva, chamando atenção para o incumprimento dos programas curriculares em certas províncias, justificou as “reticencias” com que olha para o projecto nestes termos: “Não estou a temer o exame. Estou a alertar para as fracas condições que possuímos…Você vai aplicar um exame nacional num momento em que os manuais, ditos gratuitos, não são distribuídos a todas as crianças?”, questionou o sindicalista, sustentando as dúvidas com outra ‘rajada’ de perguntas: “Aplicar exame nacional a uma criança que estuda debaixo de uma árvore e que tem de sair a correr quando há intempéries ou numa sala com 80 ou 100 e tal alunos? Não adianta estarmos a atirar areia para os olhos das pessoas. É preciso que nos organizemos primeiro, de forma a termos um exame nacional que represente a nação e não mais um projecto para justificar relatórios.”

Às críticas do presidente do Sinprof juntaram-se dúvidas e sugestões do presidente da Associação Nacional do Ensino Particular (Anep), António Pacavira, e do docente universitário e bastonário da Ordem dos Psicólogos de Angola, Carlinhos Zassala. No essencial, os dois académicos receiam que o país não tenha tecnologia, logística ou gestores e inspectores escolares com fidelidade para levar avante o projecto, ao mesmo tempo que recordam os “perigos” residentes nas assimetrias regionais.

Viriato Neto, o responsável pelo departamento do Med que lidera os trabalhos sobre a implementação dos exames nacionais, entende que a referência a assimetrias tem sido “totalmente teórica”, pelo que será com os exames que se poderá saber “quais são realmente estas assimetrias”. “Os exames que queremos implementar é para nos ajudar a corrigir estas assimetrias, pois vai permitir-nos ver quem é quem”, reforça o responsável, admitindo, no entanto, que “nem é preciso sair de Luanda para se aperceber destas assimetrias”. “Não é só o aluno que será avaliado. Vamos avaliar todo o processo, toda a cadeia. Ao fazermos o exame nacional, avaliamos também a escola, a província e a competência dos professores, porque os resultados poderão demonstrar se houve cumprimento do programa. Quer dizer que nós mesmos, Med, vamos auto-avaliar-nos.”

Sobre a lisura e segurança do processo, o responsável do Med assegura que já há contactos com os ministérios da Defesa e do Interior, pelo que, embora reconheça que os níveis de corrupção no país são “altos”, acredita haver condições para a realização do processo “com êxito”.

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