Fortes sinais

O que era impensável há alguns anos aconteceu na África do Sul. O ANC, partido no poder e histórico lutador pela democracia, ganhou as eleições, com menos de 60 por cento dos votos. Aliás, bem longe. É certo que as eleições autárquicas, sobretudo com a queda de bastiões, já tinham dado um sinal claro de como os sul-africanos começam a olhar para o Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês).

A frustração para o aumento de desemprego, os inúmeros casos de corrupção, a falta de soluções prometidas à maioria negra, a subida da criminalidade e os escândalos dos políticos vão servindo para  o desgaste de um partido que governa uma das economias mais sólidas de África. É a segunda do continente, com as infra-estruturas mais consistentes, e a 25ª no mundo, o que lhe dá até o ‘direito’ de reunir, em cimeira, os líderes das economias mais avançadas. Por exemplo, só Joanesburgo é a cidade mais rica de África e responsável por 10 por cento do PIB de todo o continente.

Mas a África do Sul também é o país que tem uma das taxas mais elevadas de desemprego, em que são assassinadas - revelam as estatísticas - 52 pessoas por dia e onde há mais de 55 mil violações sexuais  por ano. Há cada vez mais pobres e os poucos ricos são cada vez mais ricos.

É este panorama que teima em manter-se e que o ANC se tem mostrado incapaz de inverter. Daí que, de eleição em eleição, vá perdendo votos, tanto em percentagem como em números, apesar do crescimento da população. 

Este contraste entre a economia pujante e as condições sociais tem sido decisivo na hora do voto. Em 1994, nas primeiras eleições livres, era quase um dogma considerar que o ANC dificilmente deixaria o poder nos 100 anos seguintes. Bastaram pouco mais de 20 para os alicerces tremerem.

Um pouco por toda a África, os partidos históricos, que levaram os países às independências ou à democracia (como foi o caso do ANC), vão perdendo fulgor, são derrotados em eleições ou simplesmente desfazem-se.

Por cá, o MPLA é dos poucos resistentes. Aguentou-se após o ‘27 de Maio’, numa altura em que era partido único. Sobreviveu a quatro eleições, mas, tal como o ANC, vai perdendo força. E Angola não tem a força económica da África do Sul. É bom captar sinais.

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