Desencontrados

Governo e a generalidade dos empresários continuam a fazer leituras muito distintas sobre os rumos da economia. Apesar de reconhecer as dificuldades genéricas que afectam as empresas, o Governo insiste que está no caminho certo. E, para isso, além do proclamado combate à corrupção, cita as medidas macroeconómicas mais importantes que começaram a ser implementadas desde que João Lourenço chegou ao poder: foco na estabilização orçamental, controlo da política monetária e liberalização da política cambial. Mas os empresários levantam problemas críticos. Primeiro, ao contrário do que diz o Governo, as políticas macroeconómicas tiveram consequências nefastas na sobrevivência das empresas. A preocupação com a estabilização orçamental retirou a capacidade ao Governo de fazer investimentos. E o investimento público, tendo sido por longos anos o sustentáculo das empresas, não deveria ser sacrificado ao limite, em nome da liquidação da dívida do Estado que ‘comeu’ metade dos orçamentos de 2018 e 2019. É claro que a dívida pública tem de ser paga, não é esse o problema. O que está em causa é que o Governo não corta onde deveria cortar para conseguir um esfoço maior a nível do investimento público. O selo reformista do novo Governo é incompatível, por exemplo, com a pesadíssima estrutura do Estado que obriga a gastos correntes monstruosos em tempos de crise. As mexidas na política monetária também não produzem resultados na actividade das empresas. A redução progressiva das taxas de juro de referência não facilitou, até ao momento, o acesso ao crédito. Em parte, pela necessidade gritante do Governo de recorrer também à dívida interna que faz com os bancos prefiram fazer negócios com o Estado em detrimento das empresas. Por fim, a liberalização abrupta do câmbio é fortemente criticada por inviabilizar os investimentos em kwanzas dos empresários locais e por destruir completamente os rendimentos em moeda nacional.

No fundo, os empresários nacionais vêm-se marginalizados, porque o conjunto das medidas, em termos de curto prazo, dão atenção exclusiva ao investidor estrangeiro. Mas não é apenas isso. Há queixas recorrentes de falta de diálogo. Na generalidade, os homens de negócio dizem que o Governo mantém a prática de tomar medidas dirigidas aos empresários sem falar com os empresários. No mínimo, é incompreensível.