Definitivamente, não

1. Os primeiros dias de 2019 já serviram para relembrar o quão desafiantes serão os próximos 12 meses, tal como ficou anunciado no ano passado. Nos bastidores, o Executivo já assume uma atitude mais realista quanto ao esperado incumprimento das metas orçamentais, depois de ter defendido um Orçamento assente em pressupostos irrealizáveis. Se para a população o Governo insiste com um discurso de expectativas, para si próprio, a linguagem é mais pragmática. Os ministérios e os governos provinciais já estão notificados a cortar na despesa. Quando, mais para o fim do primeiro trimestre, a Assembleia Nacional for solicitada a aprovar a revisão do Orçamento Geral do Estado, o exercício passará apenas por conformar o documento aos cortes já em curso. O que está por determinar ainda é a proporção do ajuste na despesa, mas não surpreenderá se ultrapassar a barreira dos 20 por cento.

 

2. Em Luanda, a nomeação de Sérgio Luther Rescova gerou ansiedades que antecipam um acompanhamento mais curioso da governação do líder da JMPLA. Mal se tomou conhecimento da sua indicação para governador provincial, não faltaram comentários a questionar-lhe, sobretudo, a experiência. Comentários, diga-se de passagem, preguiçosos e sem fundamento histórico. E a explicação é simples. Se, no nosso caso, a idade e experiência fossem requisitos absolutos de competência, honestidade e boa governação, Angola seria seguramente dos países mais prósperos do mundo. Definitivamente, não são as gerações mais novas as principais responsáveis pelos atrasos que devastam o país. Isto antecipa necessariamente uma conclusão lógica: ainda que a governação de Luther Rescova venha a ser menos bem-sucedida, não se lhe poderá apontar necessariamente a inexperiência, porque ninguém poderá afirmar, com segurança à prova de bala, que, se fosse um ‘mais velho’, teria feito melhor.  

 

3. O início do ano ficou também marcado com a alegada tentativa de suicídio da ex-ministra da Acção Social e Família, Victória da Conceição. Episódio que gerou especulações e indignação contra as autoridades e contra alguns órgãos de comunicação social. Contra as autoridades, por estas se terem remetido ao silêncio inexplicável e comprometedor. E contra os órgãos de imprensa por estes terem, a dado momento, noticiado a morte da ex-governante.

Sobre este último ponto e porque o NG também passou a mesma notícia, fica aqui o necessário esclarecimento. Como qualquer órgão sério e perante o surdimutismo das autoridades, o Nova Gazeta fez o que lhe competia: contactou fontes, até prova em contrário, de respeitada idoneidade, a Polícia. Se uma voz autorizada da Polícia certificou a informação que já havia sido anteriormente divulgada por outros órgãos de comunicação social respeitados, estavam criadas as condições para se avançar com a notícia.

Os jornais até cometem erros. Volta e meia há notícias vergonhosas de jornalistas que inventam reportagens. Mas, apesar disso, é no mínimo espantoso que um punhado de gente sã e sabida tenha pensado que vários jornais credíveis decidiram, por alma do diabo, inventar a morte de uma ex-ministra. Se os médicos (citados pela Voz d’América) e a Polícia (citada pelo ‘Novo Jornal’ e pelo Nova Gazeta) se equivocaram, essa responsabilidade não pode ser atribuída aos jornais e aos jornalistas. Definitivamente, não.