Roupas usadas de origem ocidental perdem terreno

Concorrência chinesa agita negócio do ‘fardo’

Concorrência chinesa agita negócio do ‘fardo’
Mário Mujetes

Procura de roupas usadas de origem europeia e americana regrediu face à proliferação de ‘fardos’ chineses.

O negócio de roupas usadas de origem ocidental, em Luanda, entrou em declínio nos últimos três anos, com a entrada da concorrência chinesa que passou a oferecer preços mais competitivos.

Quem o confirma são vários operadores espalhados pela capital que assinalam uma tendência de recuo nas vendas, desde a inauguração da ‘Cidade da China’, em 2016, um complexo comercial instalado na Avenida Comandante Fidel Castro, mais conhecida por ‘via expressa’.

No ‘complexo chinês’, os preços das embalagens de roupa usada variam entre 30 e 80 mil kwanzas, oscilações determinadas pelo volume e pela qualidade do produto. Já no mercado do IFA, no município do Cazenga, onde se adquirem as vestimentas de origem ocidental, os preços dos balões de ‘fardo’ se situam entre os 50 e 170 mil kwanzas, variações também justificadas com a qualidade e o volume das embalagens.

Com os preços médios a metade, face à concorrência, o produto chinês passou a atrair a preferência dos revendedores que viram os lucros muitas vezes superar a margem dos 300%. “Já tive um balão com mais de 300 peças, quase todas de boa qualidade. Vendi umas a mil kwanzas e outras a 1.500 e outras até a dois mil kwanzas”, testemunha Biatriz da Graça, precisando ter tido ganhos de mais de 90 mil kwanzas, depois de ter investido apenas 30 mil. “O segredo para adquirir um bom balão é dar uma gasosa aos trabalhadores que conhecem bem os sacos”, aconselha a jovem de 37 anos, natural da Luanda-Norte e operadora no mercado dos Kwanzas, no distrito do Sambizanga.

Contrariando as críticas contra a qualidade dos ‘fardos’ da China, Janeth Cláudio, de 43 anos, também confessa  ter visto as receitas melhorarem, depois de se ter virado para o complexo situado na ‘via expressa’.  Janeth Cláudio colocou um posto de venda à frente da sua própria casa, no Zango 4, e contratou três jovens que fazem a venda ambulante. “A mercadoria da China tem sim qualidade, por isso é que as minhas roupas e pastas são bastante procuradas e os miúdos que as zungam nem demoram”, declara.

Mas, se o negócio do ‘fardo’ corre de ‘vento em popa’ para as duas revendedoras das marcas chinesas, Isabel Micaías, natural do Libolo, Kwanza-Sul, e que vende roupas usadas de origens europeia e americana, confessa ter “imensas saudades” do período em que não havia roupas do ‘gigante’ asiático em Luanda. “Já tive lucros superiores a 100%, mas hoje, por causa das roupas chinesas de péssima qualidade, as vendas recuaram”, lamenta a revendedora, que adquire o balão de ‘fardo’ no IFA e que está instalada há 16 anos, no mercado do Prenda, na Maianga.

 

 

Outros artigos do autor