Ao pé da estrada, o café cede lugar

É indubitável. Para quem lê a história da distribuição agrícola pelo país, Libolo, Aboim Uije e Golungo Alto são “terras do café”. No passado, as margens das estradas e das picadas estavam cobertas do arbusto que, em Novembro, se engalana de um branco de cheiro inigualável, sendo Julho o mês em que o vermelho toma conta das fazendas. É o bago vermelho. Assim ficou registado na literatura histórica e na mente de quem, a partir da cidade, pensa e decide o campo.

O café robusta, plantado em terreno alto e de nevoeiro permanente, demanda sombra frondosa, sacha, poda e colheita com maior intervenção humana do que mecânica. É diferente da espécie arábica: plantas expostas ao sol, regadas a jacto, inundação ou conta-gotas, com passagens para tractor agrícola e labuta facilitada. As ladeiras das estradas e picadas do Libolo, Golungo Alto e Amboim têm hoje mais bananeiras e palmeiras (resistentes) do que cafezal que se esconde na profundidade do matagal robusto e opaco.

Muitos se perguntarão “por que razão o café vai, aos poucos, cedendo espaço à mandioqueira, ao canavial e, sobretudo, ao bananal?”. Pois, não será muito difícil aferir que o quilograma de café não anda acima de 200 kwanzas, mesmo contando com o enorme trabalho que há entre plantar o arbusto até colher o bago, secá-lo, ensacá-lo e armazená-lo. Tem pelo meio a sacha, poda, desinfestação, o feijão maluco a complicar a vida do recolector e a cobra a amedrontar os noviços na arte da apanha do grão-ouro.

A bananeira é oportunista e afasta a erva daninha. Dispensa a poda e quanto mais rebentos houver, maior será a colheita. A banana pode ser comida ainda verde (fervida) ou madura. Quando putrefacta, é submetida à destilação por processo artesanal, resultando em apetecível “das ponteiras”.

Um cacho de banana ou uma pilha de cana dão um lucro mais imediato e a custo resumido de produção do que um quilograma de café. É só por isso que os pequenos camponeses vão substituindo os cafeeiros que ladea(va)m as nossas estradas nas famosas zonas cafeícolas por plantações de bananal e canavial. De terceiro maior produtor mundial do bago vermelho, em 1973, quando imperavam as monoculturas obrigatórias para os nativos e facilitadas por trabalho semi-escravo ou mão-de-obra ultrabarata para os colonos, Angola terá de ‘pedalar’ até à exaustão se pretender ascender a um décimo posto desse campeonato mundial de café.

O pequeno agricultor já não se contenta única e exclusivamente com o café. A renda não aguenta doze meses. E, se comprador não houver, como às vezes dizem acontecer, pior ainda!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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