Embora contra a ratificação do Acordo Ortográfico

Presidente da AAL defende variante do português angolano

O presidente da Academia Angolana de Letras (AAL), Paulo de Carvalho, defende que académicos e linguistas devem trabalhar para a adopção oficial de uma variante angolana da língua portuguesa, com base em regras devidamente definidas.

Presidente da AAL defende variante do português angolano
Paulo de Carvalho, sociólogo

Para Paulo de Carvalho, é “absolutamente” recomendável considerar a sugestão de linguistas, sociólogos e antropólogos, no sentido da “legitimação” de um português angolano.

O sociólogo e professor catedrático da Universidade Agostinho Neto sublinha que “o que os linguistas e outros profissionais devem fazer é indicar as características dessa variante”.

“Qualquer língua possui regras, que devem ser seguidas no ensino e na comunicação social”, alerta Paulo de Carvalho, antes de chamar a atenção para o facto de que “uma coisa é a variante da língua portuguesa e, outra, falar mal o português”.

Em relação ao imperativo de se falar bem a língua portuguesa, Paulo de Carvalho defende a introdução de exames “obrigatórios” de português na transição do ensino básico para o secundário.

“A partir do momento em que o sistema prevê exames, então o português deve ser uma das disciplinas com obrigatoriedade de exame”, diz.

Em declarações à Angop, Paulo de Carvalho diz que a “grande maka” tem que ver com os professores de português, que deveriam ser eles examinados anualmente, em primeiro lugar”.

Quanto à construção da variante da língua portuguesa de Angola, Paulo de Carvalho diz ser um processo que “demora” sempre algum tempo e que “exige” recursos.

“Trata-se de um processo moroso, que, felizmente, até já foi começado ao nível do Ministério da Educação. Era preciso pegar no que já foi feito, incluir investigadores de algumas áreas que não têm normalmente sido consideradas e elaborar um programa com acções concretas”, diz.

Enquanto presidente da Academia Angolana de Letras, Paulo de Carvalho diz subscrever “inteiramente” a não ratificação, por Angola, do Acordo Ortográfico de 1990.

“Enquanto se considerarem apenas as questões fundamentais que o Brasil e Portugal levantam, e se esquecerem as questões linguísticas fundamentais dos países africanos, não podemos ratificar esse acordo”, sublinhou.

Para o académico, os mitos da unicidade, da simplificação pedagógica e da parcimónia como a filosofia geral da estruturação do referido AO “teriam sustentabilidade” se tivessem considerado as “particularidades” dos países africanos e das línguas africanas, do mesmo modo que, no Brasil, foram consideradas as particularidades das línguas locais.

“Enquanto tivermos países subalternizados, sem se considerarem as particularidades das línguas que aí coexistem com o português, não vemos grande possibilidade de ratificação do acordo”, remata.