A culpa é da Telstar

O país entrou quase num caos, com a falta de combustível. E só se deu
conta da gravidade da situação – e o Governo só reagiu – porque a
crise atingiu Luanda. A sacrossanta cidade, onde nada de mal pode

acontecer. Mas antes já Benguela, Huíla, Bié, Cunene e Kuando-
Kubango tinham sentido a falta de combustível, sem que merecessem

qualquer atenção governamental.
Ainda assim, a justificação para a falta de combustível não poderia
ser mais pífia: uma falta de comunicação entre a Sonangol e os
ministérios. Num país de petróleo, esperava-se maior organização,
melhor comunicação e, já agora, melhor justificação.
Foi então a falta dela – a comunicação – que quase perigou a
segurança nacional e coloca milhares de pessoas em filas
intermináveis nas bombas de gasolina. Com as consequências que se
sabe: abstinência no trabalho, consultas adiadas, atrasos no
‘tratamento de papéis’, faltas à escola. O que a falta de comunicação
não faz!
Deve ser também por causa do desastre comunicacional que não há
energia em muitas localidades, em especial, nos bairros mais pobres
de Luanda e fora da capital. Com cortes sucessivos de electricidade.
Deve ser a comunicação que também atrapalha a distribuição de
água: ou não há, ou, quando há, chega cheia de barro, com cores
estranhas e cheiros suspeitos.
A tal ausência de comunicação continua a perturbar os transportes
públicos, com frotas de autocarros a caírem de podre e comboios que
só circulam ao sabor do capricho.
É também a comunicação que tem aumentado, nos últimos meses,
o número de desempregados, bem visível no exército de zungueiros
que voltaram a atacar as principais ruas das cidades, em desespero
para conseguir fazer uns mil kwanzas por dia. Isto para quem pode.
Quem não pode limita-se a passar fome e à espera de um amanhã que,
cada vez, tarda em chegar.
Esse demónio – a falta de comunicação – deve ser responsável por
o kwanza estar cada vez mais fraco, os alimentos cada vez mais caros,
com subidas de custo de vida que se sentem todos os dias, para não
dizer quase todas as horas.
Pois, a falta de comunicação pode bem ser uma desculpa para tudo.
Ou para que não se tenha nada. Desconfio que os governantes andam
a usar os telemóveis da Telstar.

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