Início de actividade pode estar comprometido

Falta de divisas trava arranque de vidreira

. Empresária admite possibilidade de iniciar produção com atraso. Para a primeira fase, unidade terá capacidade de produção de 180 toneladas/dia, a mesma da Vidrul, que detém o monopólio do mercado.

Falta de divisas trava arranque de vidreira

A Embalvidro, fábrica de embalagens de vidro ligada à empresária Isabel dos Santos, pode não iniciar a produção em Junho de 2019, como previsto pelos accionistas, devido a dificuldades de acesso a divisas para a importação de máquinas e equipamentos.

A informação foi avançada ao VALOR pela empresária, salientando que, apesar de estarem a fazer “o máximo para construir em kwanza”, precisam de divisas para as máquinas e equipamentos. “Até agora, ainda não conseguimos [divisas] e a inauguração depende da disponibilidade das divisas. Só se conseguiu fazer o ‘down payment’ do valor das máquinas e equipamentos”, adiantou, sem precisar os valores em causa.

O lamento da também accionista dos bancos BFA e BIC junta-se ao de outros empresários. À situação revela que as alterações efectuadas pelo BNA nas regras de venda de divisas e de importação ainda não conseguiram corresponder na plenitude à preocupação da classe.

 

Uma referência em África

Em nota enviada ao VALOR, a empresa, que será a segunda fábrica de embalagens de vidro no país, assume o desejo de ser uma “referência em África com padrões de qualidade equivalentes ao que de melhor se faz no mundo”.   

Isabel dos Santos assegura que as obras, iniciadas há dois anos, “num terreno comprado vazio na ZEE” estão “em bom ritmo”. A unidade ocupará um lote de 15 hectares, estando prevista a conclusão do projecto em duas fases. Na primeira, em que se inclui a construção da infra-estrutura já em fase final, “conta com uma capacidade instalada de 180 toneladas por dia em laboração contínua, em três linhas de produção em simultâneo”, lê-se na nota.

A empresa dá ainda conta que a capacidade instalada para a primeira fase equivale a cerca de 64.800 toneladas por ano “destinadas a abastecer o mercado nacional, nomeadamente a indústria de bebidas e a indústria alimentar”.

A segunda fase prevê “uma capacidade de produção de mais do dobro da primeira”, estando previstas “cinco linhas de produção em simultâneo”.

“Pretendemos consolidar a produção da primeira fase do projecto, garantido a formação de pessoas, para que sejam estas a liderar da expansão da e instalação da segunda fase do investimento”, adianta o director-geral, António Ruivo no documento enviado ao VALOR. O gestor afirma que a empresa “pretende garantir capacidade técnica e humana para satisfazer o mercado da África Subsariana”.

A capacidade prevista para a primeira fase de produção da Embalvidro (180 toneladas/dia) é igual à produção da Vidrul que, assim, vai perder o monopólio do mercado.

“Não estamos muito preocupados com a entrada em funcionamento da nova vidreira, porque existe mercado para todos, não conseguimos atender a toda a necessidade do mercado. Há muitas pequenas e grandes empresas para quem não conseguimos vender”, garantiu ao VALOR, em outra ocasião, o director-geral da Vidrul, Carlos Martins.

A Vidrul abastece essencialmente as cervejeiras do grupo Castel e exporta cerca de 15% da produção para países como Gabão, RDC e República do Congo, assim como para a Costa do Marfim, Mali e o Benin, numa lista de cerca de 15 destinos. Avaliado em cerca de 120 milhões de dólares, a Embalvidro é uma parceria entre a Sodiba (produtora da cerveja sagres em Angola) e Industrial Africa Development (IAD) com 51% e 49% respectivamente.

 

 

Empresária reclama pagamento

Por outro lado, Isabel dos Santos reclama uma dívida, sem especificar o valor, do Governo para com a sua empresa Niara Holding Limitada, que esteve ligada ao consórcio para a construção da barragem hidroeléctrica de Caculo Cabaça, mas que foi forçada a sair por decreto presidencial em Julho deste ano. A empresária garante que a sua empresa participou activamente nas obras, mas nunca foi paga “por ser filha do presidente”.

“Tenho 750 trabalhadores até hoje lá na obra, não me pagam nada, zero. Não somos pagos há três anos, pois começámos a obra em 2015 e agora não me querem pagar”, desabafou a empresária.

Continuando, lamentou que, “quando convém”, se confunde “um dos maiores empresários do país e que mais empregos cria com a “filha do presidente”. Quando dá jeito, fazem esta confusão. No boxe, isso chama-se golpe baixo”, comparou. Interrogada sobre o valor em causa, a empresária respondeu de forma enigmática: “Quando és expulso sem explicação alguma…”

Ao VALOR, o Ministério das Finanças prometeu esclarecimentos, mas não prestou até ao fecho desta edição. 

Em Junho de 2015, o então Presidente José Eduardo dos Santos aprovou a entrega da obra, avaliada em 4.532 milhões de dólares, com financiamento do Banco Comercial e Industrial da China, ao consórcio CGGC & NIARA Holding Limitada. Um ano depois, aprovou um outro despacho, acrescentando ao consórcio as empresas Ghezouba Group Company e Boreal Investment.

Em Julho deste ano, João Lourenço excluiu do consorcio a Niara Holding e a Ghezouba Group Company e Boreal Investment, justificando com a “necessidade da modificação subjectiva”, considerando o “objecto do contrato e do seu equilíbrio financeiro”. Com 103 metros de altura máxima, a barragem vai armazenar 440 milhões de metros cúbicos de água e integrará uma central e um circuito hidráulico previstos para um caudal de 1.100 metros cúbicos de água a debitar por segundo, entre quatro grupos geradores.