Onde comprar velas?

Há uma frase, transformada em pergunta e publicada numa rede social, e que pode resumir bem a ‘Operação Resgate’: “se faltar a energia, aonde vamos comprar velas, se as cantinas estão a fechar?”.

De facto, a ironia encerra uma grande preocupação social. Nesta semana, por causa da tão propagandeada operação e carregados de receios, os donos das cantinas, ou melhor, de quem as explora, na maioria, estrangeiros, resolveram fechar os estabelecimentos. Os bairros e não só ficaram sem os habituais locais de abastecimento. Sabendo como a energia, por cá, é caprichosa, é caso mesmo para se perguntar: e agora?

A operação policial, liderada pelo Ministério do Interior, pretende, garante o Governo, organizar o desorganizado comércio. E tem como objectivo, mais a médio prazo, formalizar o negócio. Dito de outra forma, arranjar outras vias para arrecadar impostos. É legítimo que assim seja e o Estado cumpra com o seu papel.

Mas, logo à partida, percebe-se que a operação foi pensada sem que se encontrassem alternativas para a agitação social que poderá provocar.

Os polícias, obedecendo a ordens, lá vão empurrando os vendedores para longe das ruas. Muitos fazem da zunga um modo de vida. O único, alias, que lhes permite sustentar a família. E, por isso, têm toda a legitimidade em questionar o que é feito dos tais milhares de empregos prometidos por João Lourenço, durante a campanha eleitoral do MPLA.

A maior fiscalização às cantinas pretende ‘atacar’ a imigração ilegal. É justo que assim seja. No entanto, destapa outro problema: não há angolanos a gerir lojas. Na maior parte dos casos, por falta de vontade, noutros, por ausência de incentivos.

A ‘Operação Resgate’ reforça uma evidência: é, de facto, muito mais fácil enviar centenas de agentes para a rua do que gerar empregos, criar políticas sólidas ou arranjar infra-estruturas que impeçam falhas de energia.

A operação traz à imagem aqueles empregados de limpeza que atiram o lixo para debaixo do tapete. Por cima, fica tudo bonitinho. O problema é a parte de baixo.

 

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