Relatórios internacionais desmentem percepções do Presidente da República

João Lourenço garante que “não há fome em Angola”

Em entrevista à estação pública portuguesa, o Presidente da República admitiu “haver malnutrição e pobreza”, mas rejeitou que haja fome em Angola. No entanto, dados internacionais dão outra imagem de Angola.

João Lourenço garante que “não há fome em Angola”

O pretexto da entrevista estava desenhado: a visita do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a Angola. Tal como o presidente português optou por dar uma entrevista à TPA e a três jornais nacionais, João Lourenço escolheu apenas a RTP, o canal público português. E foi aqui que garantiu “não haver fome em Angola”. No entanto, o Presidente reconhece a pobreza como um “problema do continente e do nosso país” e que Angola tem pobres “como em muitas partes do mundo”. Apesar disso, João Lourenço fez questão de traçar linhas de separação entre pobreza, fome e malnutrição: “Pode haver alguma malnutrição, há sempre alguma, mas – comparativamente aos anos de conflito – houve uma evolução bastante significativa. É evidente que a pobreza não é só a falta de alimentos. A pobreza tem que ver com as condições de habitação da população, o acesso à escola, o acesso à água potável. Em termos de fome, por exemplo, não se pode dizer que exista fome em Angola”.

No entanto, as convicções de João Lourenço chocam com os números da fome em Angola, de acordo com os relatórios internacionais (ver caixa)

O Presidente da República garante que tem feito uma luta “gradual para a redução desses mesmos índices de pobreza”, culpando “os longos anos do conflito armado” pela actual situação social angolana. “Não havia circulação e os campos estavam minados. Nos últimos anos, foi feito um esforço muito grande no sentido, em primeiro lugar, da desminagem dos campos e da abertura de vias. Existe circulação por terra. Hoje, a oferta de bens alimentares produzidos localmente já é bastante significativa”, afirmou João Lourenço. O Presidente da República garante ainda que “têm vindo a ser feitos grandes investimentos no sentido de satisfazer o maior número possível de cidadãos com acesso à água potável, energia e habitação”.

Na entrevista à RTP, fora das questões sociais, João Lourenço garantiu que vai concorrer às próximas eleições. “Em princípio, se até lá estiver de boa saúde, com certeza que vou concorrer”, revelou.

As relações entre Portugal e Angola mereceram uma especial atenção, com João Lourenço a assegurar que “as relações estão no pico da montanha, lá bem acima”, mas que ainda há o “dever de continuar a trabalhar no sentido, não diria manter este nível, mas, se possível, subir ainda mais”.

O assunto luta contra a corrupção voltou a estar em destaque na entrevista de João Lourenço, com o Presidente a admitir que sabia da corrupção antes de ser eleito: “É preciso que se diga que não sou alguém vindo de outro país, de outro planeta, de outro partido político. Sou parte do sistema. Cresci dentro do MPLA e, muito antes de vir parar à Presidência da República, acompanhei tudo o que foi sendo feito de bom e de mau pelo meu próprio partido. Não foi uma surpresa. A única diferença é que, posto cá, acabei por ter oportunidade de ter a dimensão real do quanto a corrupção em Angola representava”.  João Lourenço assegurou não recear o combate que tem feito, que tem tido “muita coragem” e que essa política é para ser seguida, “sejam quais forem as dificuldades e as ameaças que possamos encontrar pelo caminho”.

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