Desde 2003 na liderança da Unita

Samakuva reafirma intenção de deixar presidência

O líder da Unita volta a garantir que vai deixar a liderança do partido já no próximo congresso, que será este ano, mas que ainda não tem data marcada. Não é a primeira vez que Isaías Samakuva promete largar a presidência. A Unita vira-se para o combate à corrupção com Adalberto da Costa Júnior a defender uma amnistia para os acusados, mas com a obrigatoriedade de devolverem o dinheiro.

| | André Kivuandinga
Samakuva reafirma intenção de deixar presidência
Mário Mujetes

O presidente da Unita, Isaías Samakuva, no cargo desde 2003, reafirmou, em entrevista à Rádio ‘Mais’, que está disposto a deixar a presidência do partido, sem, no entanto, dizer a data, deixando tudo para o congresso previsto para este ano.

Não é a primeira vez que Isaías Samakuva admite deixar a liderança, colocando prazos. Antes das eleições de 2017, garantia – até numa entrevista ao NG – que iria abandonar a liderança “em caso de vitória ou derrota” da Unita. No entanto, não o fez. Alegadas pressões internas, sobretudo de altos dirigentes do partido, obrigaram-no a recuar, adiando a decisão. Aliás, por isso, tem recebido críticas por ser “demasiado liberal” que ele refutou na entrevista radiofónica: “Internamente, há vozes que se levantam contra mim, dizendo que sou liberal de mais, pois consulto os meus colegas sempre que pretendo tomar uma decisão”, realçou, garantindo que, no partido, se vive em “democracia interna”.

Isaías Samakuva foi eleito líder da Unita, em congresso, em 2003, repetindo a vitória por mais duas vezes.

O ainda líder da Unita esquivou-se a identificar os possíveis candidatos à sua sucessão, assumindo que pretendia fugir de polémicas e dos conflitos internos. “Se o fizer, na minha condição de presidente do partido, desencadearei um processo complicado. No entanto, temos muitos nomes que podem liderar a organização”, garantiu. Dentro do partido, admitem-se as candidaturas de Adalberto Costa Júnior, actual líder parlamentar, Raul Danda, José Pedro Katchiungo, ambos deputados, e de Rafael Massamba Savimbi, um dos filhos do líder histórico e fundador da Unita.

Isaías Samakuva voltou a afirmar que apoia o combate à corrupção, iniciado pelo Presidente da República, mas não nos mesmos moldes de João Lourenço. O líder da Unita acredita que até a eleição do actual Presidente esteve eivada de corrupção, uma vez que andou a oferecer coisas”.

 

Amnistia e devolução do dinheiro

Aliás, o combate à corrupção e a devolução de capitais mereceram fortes críticas de Adalberto Costa Júnior. Numa palestra no Huambo, perante estudantes, académicos e políticos, o líder parlamentar da Unita confessou sentir uma “forte impressão de que estamos perante a investigação de uns quantos indicados e a protecção de outros”. Foi a forma que Adalberto Costa Júnior encontrou para lançar farpas a João Lourenço, ao mesmo tempo que voltava a defender a instituição de uma “amnistia aos crimes económicos, associando-a à obrigatoriedade da devolução dos bens desviados”.

A palestra do dirigente da Unita coincidiu com a chamada à Procuradoria-Geral da República de Higino Carneiro, deputado do MPLA e ex-governador de Luanda, por suspeita de vários crimes (ver página seguinte).

Dias depois, Adalberto Costa Júnior publicou, na sua página do Facebook, que “não foi por acaso que tanto a TPA como também a TV Zimbo foram buscar estratos do meu debate no Huambo, para darem a ideia de defesa de Higino. O mesmo Higino que o grupo parlamentar expôs fortemente em trabalho que mereceu uma conferência de imprensa minha, com balanço de 10 anos de orçamentos destinados à rede viária. A Procuradoria tem imensos dados, via a nossa investigação e apresentação pública. Cerca de 30 mil milhões de dólares foram mal gastos pelo Ministério e pelo gabinete de Reconstrução dirigido pela Casa Militar do Presidente da República”, denunciou.